Da resiliência digital à saúde perinatal: Jornadas do CHRC mostram amplitude da investigação na UÉVORA

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O Palácio do Vimioso acolheu, a 26 de novembro, as Jornadas de Investigação: Inovação para a Saúde, Bem-Estar e Desenvolvimento Humano, uma iniciativa promovida pelo Comprehensive Health Research Centre da Universidade de Évora (CHRC-UÉvora), em parceria com o Instituto de Investigação e Formação Avançada (IIFA). Integradas simultaneamente nas comemorações do Dia do IIFA (20 de novembro) e na Semana da Ciência e da Tecnologia 2025, as Jornadas reuniram investigadores de várias áreas com o objetivo de apresentar projetos científicos em curso, debater desafios emergentes e fortalecer redes colaborativas no domínio da saúde e do desenvolvimento humano.

A sessão de abertura esteve a cargo de Rui Salgado, Diretor do IIFA, e de Armando Raimundo, Diretor do CHRC-UÉvora, assinalando o início de uma manhã inteiramente dedicada à ciência produzida na Universidade de Évora e às dinâmicas de inovação que caracterizam o centro.

Recentemente avaliado com a classificação de Excelente pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), o CHRC afirmou-se, ao longo da sessão, como um centro em robusta expansão, atualmente com mais de 100 membros integrados e uma atividade científica em forte crescimento. Para Armando Raimundo, este resultado “reflete a qualidade do trabalho desenvolvido pelos investigadores do centro e a capacidade de captação de financiamento competitivo”, condição essencial para “continuarmos a produzir ciência de elevada qualidade e com impacto real na sociedade”. O Diretor do CHRC sublinhou ainda que o centro tem atualmente 16 candidaturas em avaliação, incluindo uma com coordenação no âmbito do Horizonte Europa, bem como vários projetos em execução financiados pela FCT Saúde e pelo programa Alentejo 2030. “Temos muito boas ideias por concretizar”, referiu, destacando o dinamismo científico do centro.

Para Rui Salgado, Diretor do IIFA, a Universidade de Évora beneficia de uma “vantagem única”: a proximidade entre investigadores, estruturas e áreas científicas, que permite criar ambientes colaborativos sólidos. “Estas Jornadas são também um espaço de contacto entre a comunidade académica, pensado para estimular sinergias e colaboração científica”, referiu, sublinhando que, num contexto de oscilação nos mecanismos de financiamento, a classificação de Excelência atribuída ao CHRC “assume um papel crucial para garantir estabilidade e capacidade de crescimento”.

Ao longo da manhã, foram apresentados diversos projetos financiados por programas nacionais e europeus, ilustrando a variedade temática e a maturidade científica das equipas do CHRC-UÉvora. Bruno Gonçalves, docente do Departamento de Desporto e Saúde da UÉVORA, apresentou a UNITECHealth, uma infraestrutura coletiva de serviços especializados em desporto, saúde e desenvolvimento humano, financiada pelo programa Alentejo 2030 – FEDER. O projeto, cofinanciado pelo CHRC, representa um investimento estratégico superior a 20 milhões de euros destinado a reforçar capacidades científicas e tecnológicas na região. Para o investigador, trata-se de “alinhar ciência, território e prática profissional, unindo aquilo que nunca deveria estar separado: ciência, formação e comunidade”. A rede inclui o Laboratório do Pavilhão Gimnodesportivo, o EnSoLab e o Laboratório de Autocuidado da Escola Superior de Enfermagem.

Elisabete Alves, investigadora do CHRC, apresentou o projeto XR2ESILIENCE, aprovado pelo Horizonte Europa, que recorre a tecnologias de Realidade Estendida (XR) para promover a resiliência e bem-estar das equipas de enfermagem em Portugal e noutros cinco países europeus — Áustria, Alemanha, Croácia, Espanha e Reino Unido — envolvendo seis universidades num consórcio interdisciplinar. Coordenado em Portugal por investigadores do CHRC e do Departamento de Enfermagem da Universidade de Évora, o projeto pretende desenvolver ferramentas imersivas capazes de simular, em ambientes virtuais seguros e controlados, situações reais de stress vivenciadas diariamente pelos profissionais de saúde, permitindo treinar mecanismos de coping com elevada eficiência temporal e económica. A equipa propõe-se identificar os fatores de resiliência mais relevantes para o exercício da enfermagem, explorar o potencial da XR na sua promoção e criar intervenções tecnologicamente robustas, validadas cientificamente e socialmente aceites pelos seus utilizadores finais.  Elisabete Alves apresentou ainda o CAP4ie, projeto centrado na melhoria dos cuidados prestados a idosos nas regiões transfronteiriças Alentejo–Estremadura. O projeto promove modelos de envelhecimento saudável e o desenvolvimento da plataforma digital MIAPE para avaliação multidimensional.

Jorge Bravo, docente do Departamento de Desporto e Saúde da UÉVORA, apresentou o projeto europeu DESERT, que estuda “desertos alimentares” e “desertos de atividade física” em territórios rurais de Portugal (Alto Alentejo), Espanha (Teruel) e Turquia (Anatólia Central). O objetivo é identificar limitações no acesso a bens, serviços e oportunidades de saúde, informando políticas públicas para populações isoladas e vulneráveis.

Já Nuno Batalha, também docente do Departamento de Desporto e Saúde, apresentou o projeto PRO-PHY-EDU, financiado pelo Erasmus+, que visa melhorar o ensino superior na área da Educação Física, aproximando-o das necessidades do mercado e das escolas. Envolvendo várias universidades latino-americanas e europeias, o projeto encontra-se atualmente na fase de desenho das intervenções didáticas, sendo a UÉVORA responsável pelo workpackage de comunicação e disseminação.

Luís Pedro Rato, docente do Departamento de Ciências Médicas e da Saúde, deu a conhecer o projeto LAVida, liderado pela UÉVORA, dedicado ao estudo de compostos bioativos de espécies de lavândula com potencial anti-obesogénico. O projeto investiga perfis químicos, quimiotipos e propriedades terapêuticas através de ensaios in vitro e in vivo, ambicionando desenvolver novas abordagens terapêuticas para a obesidade.

Também José Alberto Parraça, docente do Departamento de Desporto e Saúde, marcou presença no encontro, tendo apresentado o RECORVHABIT, financiado pelo INTERREG POCTEP, que visa melhorar a qualidade de vida de idosos em zonas rurais através de ações de recuperação funcional, formação de técnicos e reforço de redes locais entre Portugal e Espanha. O projeto pretende gerar impacto científico, social e económico, servindo de modelo replicável para outras regiões.

Teresa Reis, médica psiquiatra, apresentou o projeto MATTER, financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian, que se apresenta como uma iniciativa de grande relevância social e clínica, centrada na criação de um sistema inovador de rastreio e intervenção precoce destinado a identificar sinais de sofrimento emocional em mães e pais durante a gravidez e no primeiro ano após o nascimento do bebé. O projeto propõe um modelo simples, acessível e eficaz: mulheres grávidas e mulheres no primeiro ano de pós-parto recebem questionários de rastreio diretamente por SMS, permitindo ao médico ou enfermeiro de família acompanhar de forma contínua e personalizada o seu bem-estar psicológico. Esta solução reduz barreiras, facilita o contacto com os serviços de saúde e garante que eventuais sinais de alerta são detetados rapidamente.

Por fim, João Nabais, docente Departamento de Ciências Médicas e da Saúde da UÉVORA, apresentou o projeto Clinical TRIALS READY, liderado pela empresa DECSIS Iberia, que envolve a Universidade de Évora na criação de uma plataforma digital de gestão de ensaios clínicos com forte componente de inteligência artificial. A iniciativa visa aumentar a eficiência, reduzir custos e melhorar a qualidade dos dados na condução de ensaios clínicos em Portugal.

A sessão terminou com uma mesa-redonda dedicada à discussão das sinergias internas e dos desafios futuros da investigação em saúde e bem-estar. As Jornadas evidenciaram não apenas a diversidade e qualidade dos projetos em curso, mas também a consolidação do CHRC enquanto estrutura de investigação de excelência e pilar fundamental da estratégia científica da Universidade de Évora.

 

Publicado em 27.11.2025