Universidade de Évora debateu oportunidades, desafios e riscos da política científica nacional
O Auditório Nobre do Colégio do Espírito Santo recebeu, a 20 de novembro, o Dia do IIFA (Instituto de Investigação e Formação Avançada), iniciativa integrada na Semana da Ciência e Tecnologia 2025 e dedicada ao tema “Política Científica Nacional: Oportunidades, Desafios, Riscos”. Organizado pela Assembleia do IIFA da Universidade de Évora, o encontro reuniu algumas das figuras mais marcantes da política científica portuguesa das últimas décadas, proporcionando um debate alargado num momento considerado decisivo para o futuro do sistema científico nacional.
Na sessão de abertura, Hermínia Vasconcelos Vilar, Reitora da Universidade de Évora, sublinhou a importância deste debate, num momento em que Portugal enfrenta “uma fase particular de reorganização do sistema científico e do próprio sistema de ensino superior”. Para a Reitora da UÉVORA, a reforma do modelo criado por Mariano Gago, há mais de duas décadas, “já urgia ser pensada, numa altura em que a fragmentação das unidades de investigação, a complexidade dos procedimentos e a necessidade de maior clareza na política científica têm sido amplamente reconhecidas”.
Referindo-se à proposta de reforma apresentada no final de julho e atualmente em discussão pública, Hermínia Vasconcelos Vilar destacou que esta trouxe “para a ribalta uma necessária reflexão, que exige a reação de todos nós”. Sem esconder as incertezas que atravessam o setor, identificou como questão central a ponderação sobre a possível fusão entre a Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e a Agência Nacional de Inovação (ANI), uma medida que tem dividido a comunidade científica e suscitado debates intensos quanto ao equilíbrio entre ciência fundamental e investigação aplicada. “A reforma coloca muitas dúvidas sobre a salvaguarda das ciências sociais e humanas, sobre a valorização da ciência fundamental e sobre princípios estruturantes que importa defender”, afirmou, acrescentando que Portugal poderá estar “num período de transição”, o que torna ainda mais premente a realização de encontros como este, que qualificou como “uma iniciativa exemplar do IIFA”.
Na perspetiva dos estudantes de Doutoramento, Ricardo Carvalho salientou que estas decisões “convocam direta e profundamente todos os doutorandos”, sublinhando que qualquer reorganização do sistema científico deverá garantir um futuro sustentável para quem se encontra em formação avançada. Destacou ainda que uma eventual nova agência para a ciência poderá aproximar universidades, centros de investigação e empresas, “desde que bem estruturada”.
O Diretor do IIFA, Rui Salgado, destacou a “ligação umbilical” entre investigação e formação avançada, apresentando também uma análise da recente avaliação das unidades de investigação da Universidade de Évora. A partir de um excerto de Rómulo de Carvalho, abordou a relação intrínseca entre investigação e inovação, refletindo ainda sobre os atuais desafios nacionais: precariedade na carreira científica, dificuldades de atração e retenção de talento e fragilidades no financiamento.
Já o Presidente da Assembleia do IIFA, José Mirão, sublinhou que o país está perante “uma decisão estratégica que afeta toda a sociedade”, alertando para os impactos diretos das mudanças na vida de investigadores, técnicos e estudantes. A possível fusão entre a FCT e a ANI, defendeu, levanta questões essenciais, como “Conseguiremos manter o equilíbrio entre investigação fundamental e aplicada? De que forma garantir transparência e autonomia científica? Poderá esta reforma fortalecer ou fragilizar a ciência em Portugal?”
A sessão da manhã contou com intervenções de José Ferreira Gomes, antigo Secretário de Estado do Ensino Superior e da Ciência; Maria de Lurdes Rodrigues, ex-Ministra da Educação e Reitora do ISCTE-IUL; e Helena Pereira, Presidente da FCT entre 2019 e 2022. A moderação esteve a cargo de Carlos Mota Soares e de Eduardo Marçal Grilo, ambos membros cooptados da Assembleia do IIFA e figuras de grande prestígio na reflexão sobre políticas educativas e científicas. Marçal Grilo destacou, aliás, que os oradores foram escolhidos “por serem pessoas que refletem há anos sobre estas matérias, com opinião fundamentada e experiência sólida para promover um debate rico e diferenciado”.
A sessão da tarde continuou o nível de excelência, com comunicações de António Coutinho, Carlos Oliveira, Mário Figueiredo e Luís Filipe Fernandes, figuras centrais na interface entre investigação, inovação e políticas públicas.
O Dia do IIFA terminou com um debate aberto à audiência e um Alentejo de Honra, encerrando um encontro marcado pela profundidade das intervenções e pela diversidade dos pontos de vista. Numa altura em que a política científica nacional atravessa um momento decisivo, a Universidade de Évora reafirmou o seu papel como instituição ativa na construção de um sistema científico mais robusto, transparente e capaz de responder aos desafios do futuro.
