Professora Emérita da Universidade de Évora distinguida com o Prémio Franco Volpi 2025

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No passado dia 5 de novembro de 2025, Irene Borges-Duarte, Professora Emérita da Universidade de Évora e investigadora do Praxis-UÉVORA (Centro de Filosofia, Política e Cultura), foi distinguida pela Sociedade Ibero-Americana de Estudos Heideggerianos com o Prémio Franco Volpi, uma distinção que reconhece a trajetória e o contributo de investigadores dedicados à compreensão e à discussão do pensamento de Martin Heidegger.

O prémio, criado in memoriam de Franco Volpi, um dos mais destacados leitores contemporâneos de Heidegger e promotor do pensamento heideggeriano na Ibero-América, é atribuído, em 2025, pela primeira vez, a uma personalidade da filosofia desenvolvida em Portugal, constituindo um motivo de orgulho para a comunidade filosófica de língua portuguesa.

Para a galardoada, “receber um prémio com o seu nome é uma honra muito especial, que me enche de alegria, pelo reconhecimento que representa do meu trabalho, unindo-me à lista dos anteriormente premiados. Nomes eminentes, a um e outro lado do Atlântico. Todos masculinos, até agora. O que me deixa o orgulho de ser a primeira mulher a ter esta honra”, sublinha Irene Borges-Duarte, que se confessa também “comovida por ver reconhecido um percurso pessoal que honra, através de mim, a língua portuguesa e a sua capacidade de se mostrar como idioma da cultura filosófica aberta à História da Filosofia Contemporânea”.

Com uma extensa carreira dedicada à investigação e tradução do pensamento heideggeriano, Irene Borges-Duarte tem desempenhado um papel decisivo na afirmação da língua portuguesa como veículo de reflexão filosófica e de diálogo intercultural. “Tem sido uma das minhas lutas reivindicar o uso da nossa língua portuguesa como protagonista da expressão filosófica. Creio que este prémio vem justamente chamar a atenção para a importância desse protagonismo linguístico no diálogo com o pensamento originariamente escrito noutras línguas, muito especialmente, neste caso, em alemão”, explica.

A investigadora lembra ainda o impacto que o trabalho desenvolvido na Universidade de Évora tem tido neste diálogo. “Sem deixar de lado outros âmbitos linguísticos, tenho-me empenhado na aproximação entre os espaços ibéricos e, muito especialmente, com o Brasil. Boa parte das minhas publicações atendem diretamente a esse intercâmbio, sem o qual talvez não tivessem tido lugar, ou, pelo menos, não tão intensamente. Disso também se beneficia a Universidade de Évora, com o acolhimento de muitos estudantes de doutoramento e colegas em pós-doutoramento, que me procuram.”

Reconhecida internacionalmente pela sua investigação no domínio da Fenomenologia e da Hermenêutica, a Professora Emérita da Universidade de Évora reflete também sobre os desafios que hoje se colocam à filosofia. “O nosso mundo tão marcado pelas potencialidades mediáticas da tecnologia tende, lamentavelmente, a primar a unilateralidade de uma cultura maioritariamente expressa em língua inglesa e ajustada aos desígnios da sociedade industrial globalizada. A Fenomenologia não se acomoda bem à busca de eficácia e à positividade das ciências exatas. A versão hermenêutica da Fenomenologia ainda menos, pelo que não está nos seus melhores dias. Creio, no entanto, que a sua capacidade descritiva e crítica do que se dá a ver no mundo, que sofremos e de que participamos, pode oferecer uma via privilegiada para pensar e, assim, transformar a visão do que há e as mentalidades que a deformam ideológica ou atavicamente. A tarefa fenomenológica é dar a ver os fenómenos, compreender o que eles mostram e, assim, permitir uma mudança da situação hermenêutica, que mais do que uma construção teórica é um olhar para a existência e descrevê-la nas suas privações e descuidos”, sublinha. Para Irene Borges-Duarte, o pensamento de Heidegger continua a ser “um excelente instrumento” para essa tarefa de compreensão e transformação, uma missão que a investigadora prossegue com “modéstia, mas resolutamente”.

Com esta distinção, a Universidade de Évora vê reconhecido, uma vez mais, o contributo dos seus docentes e investigadores para o pensamento filosófico contemporâneo e para o diálogo internacional das humanidades.

Publicado em 14.11.2025