Universidade de Évora celebrou 50 anos desde a primeira aula do Instituto Universitário de Évora
A Universidade de Évora (UÉVORA) assinalou, no passado dia 10 de novembro, no Auditório Nobre do Colégio do Espírito Santo, a passagem de cinquenta anos sobre a primeira aula do Instituto Universitário de Évora (IUE), momento fundador que marcou o início do percurso da instituição moderna e cuja génese esteve profundamente ligada à Matemática. Sob o mote “A Matemática na origem”, a sessão evocou a importância histórica e simbólica daquele dia de 1975, sublinhando o papel determinante da Universidade na coesão territorial e no desenvolvimento do Alentejo e do país.
Na sessão de abertura, Hermínia Vasconcelos Vilar, Reitora da Universidade de Évora, destacou a relevância de celebrar a primeira aula do IUE “porque traduz o início de um caminho que correspondeu a um desejo antigo de refundação da Universidade em Évora”. Recordando que o Instituto Universitário de Évora foi criado antes de se transformar na atual Universidade, em 1979, a Reitora sublinhou que “a criação da Universidade correspondeu aos anseios do território”, afirmando que “a Universidade é, e espero que continue a ser, o elemento âncora na cidade e no território”.
Hermínia Vasconcelos Vilar reiterou a importância de fortalecer os laços entre a Universidade e o território em que se insere, salientando que, apesar da vocação internacional da instituição, “essa ligação ao espaço onde se insere é particularmente importante num contexto em que, muitas vezes, apesar de falarmos em coesão, continuamos a esquecer que existe um território que é, na verdade, a maior parte do território nacional, mas que continua a ser olhado de forma hierarquizada em função de um litoral mais povoado e desenvolvido”.
Para a Reitora, “a coesão é uma palavra e um conceito estruturais quando se quer pensar o futuro de um território e de um país”, defendendo que “as instituições de ensino superior são elementos imprescindíveis para que essa coesão se concretize”. “Celebramos hoje um caminho de sucesso que a Universidade de Évora tem feito desde 1975 – um caminho de alargamento das áreas de formação e investigação, de ligação à comunidade, de crescimento em alunos, docentes, projetos e orçamento. Mas é também um percurso de esforço e de reivindicação do direito de sermos uma Universidade num território de baixa densidade, num país onde o ensino superior continua muito concentrado no litoral”, sublinhou.
Concluindo a sua intervenção, Hermínia Vasconcelos Vilar afirmou que esta comemoração “é, sobretudo, uma celebração do conhecimento e da continuidade”. “Os 50 anos são apenas a última fase da nossa história, mas as nossas raízes prolongam-se no século XVI. Desejamos não mais 50, mas mais 500 anos, porque o saber não tem tempo nem cronologia. Que a Universidade de Évora continue a ser o local onde a dúvida, a capacidade de questionar e de construir conhecimento sejam o motor que nos une a todos”, afirmou, sublinhando o caráter festivo da ocasião.
O programa contou ainda com intervenções de Fernando Carapau, Diretor da Escola de Ciências e Tecnologia, que evocou a sua própria ligação à instituição: “Fui aluno do curso de Matemática em 1988, pertenço ao Departamento de Matemática há muitos anos e hoje sou diretor da Escola de Ciências e Tecnologia. Esta tripla pertença representa a identidade geracional que faz parte de uma instituição de ensino superior”, afirmou, destacando que “ao longo destas cinco décadas formámos gerações de matemáticos que enriquecem o país e marcam presença nos PALOP”. Para Fernando Carapau, “não produzimos cargos técnicos, formamos pessoas que expandem fronteiras de conhecimento. Devemos equilibrar memória e ambição e projetar o futuro que juntos queremos construir”.
Também Luís Grilo, Diretor do Departamento de Matemática da UÉVORA, sublinhou o papel fundacional da disciplina na criação da Universidade: “A primeira aula da Universidade não foi por acaso. A Matemática esteve na origem da UÉvora e continua a colaborar com praticamente todos os departamentos da instituição”. Evocando as palavras do professor Rodrigues Dias, que lecionou no departamento e integrou a equipa da aula inaugural, citou: “Ontem, 10 de novembro de 1975, primeira aula do Instituto Universitário de Évora, Espírito Santo, Matemática I, 3 assistentes, trevas e luz, muita luz, que não falte a luz na caminhada dos próximos 50 anos.”
A sessão integrou ainda momentos musicais protagonizados por estudantes da Escola de Artes da UÉvora e a exibição dos vídeos “Memórias do IUE” e “Matemática na UÉvora”, que evocaram testemunhos de antigos docentes e alunos, entre os quais o do Professor Emérito Carlos Braumann, que recordou ter lecionado a primeira aula do Instituto Universitário de Évora, às oito horas da manhã de 10 de novembro de 1975. “Na altura éramos três assistentes — J. Rodrigues Dias, Mercês de Melo e eu — e começámos com dois cursos: Produção Animal e Planeamento Biofísico”, recordou.
Entre os participantes, destacou-se o testemunho de António Duque Fonseca, aluno da primeira turma de Produção Animal, que recordou ser “o aluno número cinco de uma turma com 36 estudantes”, num tempo em que se lançavam as bases de uma nova instituição de ensino superior no país. Mas, também, a intervenção de Paulo Piçarra do Grupo Diário do Sul/Rádio Telefonia do Alentejo que abordou o papel do Diário do Sul na refundação do Instituto Universitário de Évora.
O encontro contou ainda com o Painel “Matemática na Universidade de Évora: 50 anos”, que revisitou a evolução do ensino e da investigação em Matemática na instituição, através de testemunhos de Carlos Braumann, antigo Reitor da Universidade de Évora, Luísa Loura, Professora Associada da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, e Marília Simões, antiga aluna de Matemática da UÉVORA que foi distinguida recentemente com o Prémio Carreira Alumni, numa sessão moderada por Sara Fernandes, docente do Departamento de Matemática.
Cinco décadas depois daquela primeira aula do Instituto Universitário de Évora, celebrar este marco é, mais do que um exercício de memória, um gesto de reconhecimento da força e da resiliência de uma instituição que, ao longo de meio século, se afirmou como motor de conhecimento, inovação e coesão territorial. A evocação deste momento fundador é também um apelo à continuidade — à capacidade de manter viva a ligação entre tradição e inovação, entre o território e o saber, entre a memória coletiva e o futuro que diariamente se constrói dentro e fora das suas paredes.
