Separações conflituosas deixam marcas duradouras nos filhos
O livro “Filhos do (Des)Amor” da autoria de Nuno Vilaranda, apresentado ontem, 24 de junho, na Universidade de Évora, revela os efeitos profundos e prolongados que as separações parentais conflituosas têm nas trajetórias de vida dos filhos.
O livro do autor surge no âmbito de uma dissertação de Mestrado em Sociologia, desenvolvida na Universidade de Évora. A dissertação, com orientação científica dos Professores Rosalina Pisco Costa e Bruno Dionísio, que deu origem ao livro centra-se na experiência de onze adultos que viveram a separação ou divórcio dos pais durante a infância ou adolescência. Através de uma abordagem qualitativa, sustentada por entrevistas e objetos evocativos, o estudo dá voz às vítimas silenciosas da rutura conjugal: os filhos.
A investigação sociológica mostra que a alienação parental, o afastamento forçado de um dos progenitores, mudanças abruptas de ambiente familiar e manipulações emocionais têm impactos significativos no desenvolvimento emocional, social e identitário das crianças. No estudo os entrevistados relatam sentimentos de insegurança, tristeza, revolta e desorientação, que muitas vezes perduram até à idade adulta. A investigação identificou três perfis distintos de adaptação à instabilidade familiar: “Filhos Âncora”, “Filhos Ponte” e “Filhos Carrossel”.
Para Rosalina Pisco Costa, autora de um dos prefácios do livro, “faltava-nos um livro que colocasse no centro da análise as experiências dos filhos, explorando como a separação ou divórcio dos pais afeta a construção da sua identidade e molda as trajetórias de vida”. Para esta docente da Universidade de Évora, “a rutura conjugal não se limita à dissolução de uma relação conjugal ou de uma relação amorosa entre progenitores; é um fenómeno multifacetado que afeta profundamente a dinâmica interna e externa da família, as relações parentais, as relações com a família alargada, e as relações que a família mantém com outras instituições da sociedade, nomeadamente a educação, a justiça e o direito, mas também com instituições, políticas e práticas de proteção social, trabalho, consumo, lazer e sociabilidade”.
Segundo Rosalina Costa, o livro permite “compreender, a partir do presente, aquilo que aconteceu no passado e que impactos isso teve na construção da sua identidade e trajetórias de vida. A opção por entrevistar pessoas adultas que vivenciaram a separação parental na infância ou adolescência revelou a centralidade da experiência da alienação parental nas suas narrativas autoidentitárias”. Ainda para esta docente, “mais do que um estudo académico, Filhos do (Des)Amor é uma chamada de atenção para as marcas invisíveis que atravessam o tempo e o espaço, e que exigem respostas urgentes da sociedade”.
A apresentação do livro, publicado pela Âncora Editora, esteve a cargo de Hernâni de Carvalho, jornalista, apresentador e escritor, que sublinhou a relevância social do tema e a importância de dar voz às crianças e jovens afetados por contextos de parentalidade litigante.