Manuel Lopes apresenta duas obras que cruzam Ciência, experiência pessoal e reflexão crítica
A Sala dos Docentes da Universidade de Évora foi palco, na tarde de ontem, dia 19 de maio, da apresentação de duas obras marcantes da autoria de Manuel Lopes, professor da instituição e antigo Diretor da Escola Superior de Enfermagem S. João de Deus. Com uma carreira académica sólida e interventiva, Manuel Lopes revelou ao público os livros "Ciências da Saúde e Bem-Estar – Contributos para uma Perspetiva Epistemológica Integrada" e "Pensas Que Só Acontece Aos Outros?! – Narrativa e Análise Crítica de Um Percurso de Doença Oncológica", este último um testemunho íntimo e profundo sobre a sua própria vivência com a doença oncológica.
A sessão contou com intervenções de várias personalidades académicas que prestaram homenagem ao percurso e à coragem do autor. Hermínia Vasconcelos Vilar, Reitora da Universidade de Évora, destacou o “profundo compromisso com o ensino superior e com o pensamento crítico na área das ciências da saúde” de Manuel Lopes, sublinhando o seu perfil “interventivo e corajoso”. Reiterou, ainda, a esperança de continuar a contar com o seu contributo ativo na Universidade.
Também Armando Raimundo teceu elogios ao “percurso académico coerente e inovador” do professor, reconhecendo-o como “um construtor de ideias, sempre atento à transformação da área da saúde, que nos convida a questionar e nunca deixar de duvidar.” Vítor Ramos acrescentou, na sua análise, o lado humano do académico: “uma personalidade generosa que nos desafia a pensar estas áreas com profundidade e sensibilidade”, apontando ainda as potencialidades da Universidade de Évora no crescimento da área da saúde.
Manuel Lopes, manifestamente satisfeito agradeceu a presença de colegas e amigos, assumindo o momento como significativo não apenas pelo lançamento das obras, mas pela partilha de ideias e vivências que elas suscitam.
A primeira obra apresentada, "Ciências da Saúde e Bem-Estar: Contributos para uma Perspetiva Epistemológica Integrada", compila reflexões e contributos para uma abordagem holística das Ciências da Saúde. Segundo os atores do prefácio Helena Canhão, Sónia Dias e Armando Raimundo, o livro destaca-se por promover “uma visão integrada que ultrapassa os modelos biomédicos tradicionais”, acompanhando o crescimento e complexificação desta área nos últimos anos.
Já "Pensas Que Só Acontece Aos Outros?!" mergulha na experiência pessoal do autor com a doença oncológica. “Este livro mostra a vulnerabilidade humana que é passar de uma fase ativa da vida para uma situação de dependência”, afirmou Lopes. Mais do que um relato, considera-o um recurso “didático” para quem enfrenta qualquer situação de doença prolongada. “Enquanto estava a escrever, sentia-me bem”, confessou, reforçando que a obra aborda o sofrimento — transversal a todas as doenças — e a importância da escuta, do autocuidado e da presença dos outros.
Manuel Lopes não deixou de criticar o sistema de saúde, que considera ainda muito centrado nas estruturas institucionais e pouco focado nas reais necessidades do doente e das suas famílias. “A família do doente hospitalizado é tratada como visita. Depois da alta médica, desenrasquem-se. Isto tem que mudar”, alertou, questionando: “O que estamos disponíveis, enquanto sociedade, para alterar nesta realidade?”
No prefácio de "Pensas Que Só Acontece Aos Outros?!", Vítor Ramos destaca a singularidade da obra, ao conjugar, na mesma pessoa, o papel de doente, profissional de saúde, professor universitário e cidadão consciente. “Uma pessoa notável que decidiu, com coragem, partilhar vivências pessoais sobre a sua situação de doença”, escreve Ramos, que sublinha ainda conceitos como resiliência, literacia em saúde, humanização e qualidade dos cuidados como temas que atravessam o livro.
As duas obras foram apresentadas formalmente pelos professores Vítor Ramos e Armando Raimundo, ambos reconhecidos pela sua ligação à área das Ciências da Saúde e pelo apreço académico pelo autor.
Manuel Lopes terminou a sua intervenção com um apelo direto: “Critiquem, adoro ser criticado — e, acima de tudo, sejam felizes.” Um convite à reflexão e à ação, coerente com uma vida dedicada ao ensino, à ciência e à humanidade.
Com estas duas obras, Manuel Lopes deixa um testemunho que cruza o saber académico, experiência de vida e uma perspetiva crítica e humanista que convida ao debate, à empatia e à transformação do olhar sobre a saúde e o sofrimento humano.