Universidade de Évora homenageia Professora Ana Cardoso de Matos em cerimónia de jubilação

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Figura maior do Património Industrial em Portugal despede-se da docência ativa com uma celebração marcada pela gratidão e pelo reconhecimento.

A Universidade de Évora prestou, esta quarta-feira, 8 de maio de 2025, uma homenagem à Professora Ana Cardoso de Matos, por ocasião da sua jubilação. Investigadora de referência nas áreas da História da Tecnologia, da Engenharia, da História Urbana, do Gás e da Eletricidade, e do Património Industrial e Tecnológico, Ana Cardoso de Matos despede-se da docência ativa, deixando um legado ímpar no panorama académico nacional e internacional.

Questionada sobre o que a motivou inicialmente a seguir a carreira em História, Ana Cardoso de Matos não hesita em responder que “foi a curiosidade pelo nosso passado e a consciência de que o conhecimento do passado contribuiria para entender melhor o mundo em que vivemos”.

A cerimónia, que decorreu no Colégio do Espírito Santo, reuniu colegas, estudantes e dirigentes da Universidade, que enalteceram o percurso académico e humano da docente, bem como o impacto da sua carreira no desenvolvimento da investigação histórica e na valorização do património industrial em Portugal.

Clarinda Pomar, Pró-Reitora para a Gestão Académica e Acreditação, destacou “a consagração de uma carreira notável”, sublinhando que "a história da Universidade é feita por aqueles que a constroem", referindo-se à Professora Ana Cardoso de Matos como “um dos pilares da internacionalização do ensino, através da coordenação do mestrado TPTI – uma das expressões mais relevantes da projeção internacional da Universidade de Évora”. Fez ainda questão de agradecer “ o seu empenho e a dedicação — este é um momento marcante, seja pelo passado, seja pelo futuro, que irão perpetuar o seu legado”.

Também Rui Salgado, Diretor do Instituto de Investigação e Formação Avançada (IIFA), reconheceu “uma distinta professora da Universidade de Évora”, realçando o seu “vasto percurso científico aliado a funções de direção e gestão de diversos órgãos da Universidade”, e elogiando o seu “rigor, disciplina e trato afável com todos”. Garantiu ainda que “continuaremos a contar com os seus contributos”.

A Diretora do Departamento de História, Susana Gomes Martinez, salientou o papel fundamental que a homenageada desempenhou na afirmação do património enquanto área de investigação e ensino, referindo-se a Ana Cardoso de Matos como “pioneira na arqueologia industrial”, e sublinhando a sua “inovação científica e pedagógica”.

Já Fernanda Olival, Diretora do CIDEHUS – Centro Interdisciplinar de História, Culturas e Sociedades, reconheceu o papel central da professora na afirmação da investigação científica na Universidade de Évora, “em especial num contexto desafiante como o do interior do país”, considerando-a “uma das pessoas mais produtivas ao nível científico do CIDEHUS” e “figura-chave na internacionalização e na redefinição estratégica do centro”.

Antónia Fialho Conde, Diretora do Mestrado em Gestão e Valorização do Património Histórico e Cultural (TPTI – Erasmus Mundus), referiu-se a Ana Cardoso de Matos como “protagonista de um percurso de excelência, criatividade e inovação, reconhecido dentro e fora de Portugal”. Destacou ainda a sua prática docente, “centrada na partilha do conhecimento, na promoção de debates, oficinas práticas e trabalho de campo com impacto direto na comunidade”.

A cerimónia terminou com um momento unânime de reconhecimento e emoção, onde se destacou não só a sua contribuição académica, mas também o “sorriso característico” da Professora Ana Cardoso de Matos — símbolo da sua humanidade e da marca indelével que deixa na Universidade de Évora e em todos os que com ela trabalharam.

Legado científico e humano

Questionada sobre os momentos altos da sua longa carreira, a professora e investigadora, não hesita em indicar quatro marcos no seu percurso profissional. O primeiro, a conclusão do seu Doutoramento, defendido em 1997 — “que veio abrir um novo olhar sobre a forma de estudar o desenvolvimento industrial, enquadrando este desenvolvimento num contexto mais global que, intercalando abordagens de história social, história da educação, história política e história económica, procura explicar/entender as condições que existiam na altura em Portugal para desenvolver a indústria” — que a homenageada considera um dos momentos mais marcantes e desafiantes da sua carreira.

O segundo momento “foi a realização das minhas provas de agregação, em 2005 — faz agora 20 anos —, em que abordei as Exposições Universais do Século XIX, tema que me permitiu abranger uma série de assuntos ligados à divulgação, transmissão, transferência e aplicação de conhecimentos e tecnologias”, indica ainda a professora da Universidade de Évora.

E, posteriormente “a aprovação, em 2006, do mestrado em Gestão e Valorização do Património Histórico e Cultural, que dirigi até 2015, passando depois a integrar a comissão de curso; e, em 2007, a aprovação do mestrado Erasmus Mundus TPTI, coordenado pela Universidade de Paris-Panthéon Sorbonne, do qual a UÉ é um dos parceiros. O funcionamento deste tipo de mestrado, que envolve várias universidades europeias e não europeias, com bolsas atribuídas pela União Europeia a estudantes e scholars, era na altura uma novidade que colocou vários desafios — por vezes complicados de resolver — devido à variedade de critérios que regiam as diferentes universidades. Apesar das dificuldades e do trabalho que exigiu, o mestrado TPTI foi sucessivamente renovado pela União Europeia, estando atualmente aprovado até 2027, o que prova o grande sucesso deste mestrado, que dirigi desde o início até à minha jubilação”.

Depois de tantos anos dedicados à docência e à investigação, Ana Cardoso de Matos aconselha os jovens em inicio de percurso académico na área da História: “Que definam bem o tema que querem investigar, que coloquem questões e estabeleçam uma problemática mas, sobretudo, que trabalhem de forma regular e percebam que o conhecimento histórico é um conhecimento que se vai construindo. Devem também lembrar-se de que o estudo da História nos ajuda a compreender melhor o presente. Mas não se devem esquecer que a sua formação não se faz apenas com o conhecimento teórico e prático que vão adquirindo — faz-se também com o desenvolvimento de valores como a integridade, a justiça, o mérito e a equidade, pois só assim poderão contribuir para uma sociedade mais democrática”.

Ana Cardoso de Matos considera que todo o trabalho que desenvolveu para afirmar a área do Património na Universidade de Évora teve como momentos mais importantes     “ em 1997, a direção da licenciatura em História – variante Património Cultural; em 2006, a aprovação do mestrado em Gestão e Valorização do Património Histórico e Cultural; e, em 2007, a aprovação do mestrado Erasmus Mundus TPTI”. Para além disso, destaca também a coordenação da área de Património no âmbito do Departamento de História e, no CIDEHUS, a coordenação, entre 2013 e 2019, da linha de investigação “Património e Diversidade Cultural e a investigação realizada na área do Património, sobretudo do Património Industrial, os congressos e colóquios nacionais e internacionais que organizei, a extensa rede de investigadores com quem trabalhei, os projetos com outras universidades — em especial fora do país — e a orientação de alunos de mestrado e doutoramento que desenvolveram as suas teses na área da História e do Património.”

Questionada sobre como gostaria que a sua carreira fosse lembrada, a professora e investigadora da academia eborense afirma: “Gostaria que o trabalho científico e de lecionação que desenvolvi em cerca de 40 anos de profissão tivesse contribuído para abrir novas linhas de investigação na Universidade de Évora — tanto na área do Património, e particularmente do Património Industrial, como em áreas onde a história da tecnologia, a circulação de conhecimentos e a mobilidade de experts têm um papel importante, como é o caso do estudo das infraestruturas urbanas ou das grandes obras públicas.” Mas, sobretudo, acrescenta: “Gostaria que, para além dos conhecimentos que lhes transmiti, os meus antigos alunos de licenciatura, mestrado e doutoramento se lembrassem de mim por lhes ter transmitido o respeito académico, o espírito de colaboração e de trabalho conjunto e a importância do reconhecimento do mérito e da equidade de critérios na avaliação das pessoas.”

Publicado em 08.05.2025