Universidade de Évora homenageia Professor Mourad Bezzeghoud em cerimónia de jubilação
Figura maior da sismologia em Portugal despede-se da docência ativa com uma celebração.
A Universidade de Évora prestou, esta terça-feira, dia 07 de maio de 2025, uma homenagem ao Professor Mourad Bezzeghoud, investigador de referência internacional e figura ímpar da sismologia em Portugal, numa cerimónia de jubilação que reuniu colegas, amigos, estudantes e representantes institucionais. O evento, marcado por discursos emotivos e memórias partilhadas, assinalou o encerramento formal de uma carreira académica e científica excecional e o legado de um homem cuja paixão pela Ciência se refletiu em décadas de dedicação à Universidade e à investigação Geofísica.
O interesse de Mourad Bezzeghoud pela sismologia começou em 1980, quando experienciou o sismo de El Asnam, na Argélia, com magnitude 7,3. “Estava a cerca de 300 km do epicentro, mas senti claramente o abalo”, recordou o professor. “Esse momento despertou a minha curiosidade e marcou o início de um desafio pessoal. Coincidiu com a fase final da minha licenciatura em Engenharia de Geofísica Aplicada, o que reforçou ainda mais o meu interesse pela sismologia”, contou.
Desde então, construiu uma carreira sólida e inovadora. Entre os marcos mais relevantes, destaca-se a liderança na criação do Département de Surveillance Sismique e a instalação de uma rede sísmica telemétrica nacional no Centre de Recherche en Astronomie, Astrophysique et Géophysique (CRAAG), em Argel. Este projeto pioneiro representou um contributo decisivo para a monitorização sísmica no Norte de África e abriu portas a colaborações internacionais.
Em Portugal, Mourad Bezzeghoud desempenhou papéis centrais em várias instituições de investigação. Foi membro fundador do Instituto de Ciências da Terra (ICT) e colaborador ativo do Centro de Geofísica de Évora (CGE). Nos últimos anos, dedicou-se ao Centro de Investigação em Ciência e Tecnologia para o Sistema Terra e Energia (CREATE), onde contribuiu para projetos científicos de grande impacto.
Na sessão solene, Maria João Costa, diretora do CREATE e organizadora da cerimónia, destacou os valores “humanistas e de homem da Ciência” do homenageado: “Conheci o professor Mourad em 1997 e, desde o início, admirei a sua capacidade construtiva, sempre disponível para abraçar novos projetos com lealdade, generosidade e espírito colaborativo.”
A Reitora da Universidade de Évora, Hermínia Vasconcelos Vilar, enalteceu o percurso profissional e o carácter do docente: “É uma honra para qualquer universidade contar com os contributos do Professor Mourad. Defende com firmeza aquilo em que acredita e é um exemplo de dedicação à vida académica.” A responsável da academia eborense sublinhou, ainda, o papel fundamental de Mourad Bezzeghoud na consolidação da Universidade nas áreas das Ciências da Terra.
Também Daniele Bortolli, colega e investigador, diretor do Departamento de Física, recorreu à emoção para recordar o impacto do professor Mourad Bezeghoud na vida académica de muitos: “A sua paixão pela Ciência inspirou professores e estudantes. Sempre disponível, sempre presente. Deixa uma marca indelével nesta instituição.”
Fátima Batista, presidente do Conselho Científico da Escola de Ciências e Tecnologia (ECT), sublinhou a empatia e a capacidade de “descomplicar e encontrar soluções”. Rui Salgado, diretor do Instituto de Investigação e Formação Avançada (IIFA), recordou “as relações de amizade e profissionalismo” construídas ao longo dos anos, bem como a sua experiência em cargos de responsabilidade. Já Clara Grácio, diretora da Escola de Ciências e Tecnologia (ECT), celebrou os mais de 20 anos de colaboração: “A sua presença foi constante, sempre com boa disposição, clareza e firmeza, defendendo a Escola de Ciências e Tecnologia e a Universidade, com integridade.”
Neste momento de homenagem, foram várias as personalidades que testemunharam as facetas do investigador e do homem.
Mourad Bezzeghoud refletiu sobre os desafios da carreira científica e sobre a realidade da precariedade na investigação, mas deixou uma mensagem de incentivo aos mais jovens: “Se esta é realmente a vossa vocação, não desistam. Sejam resilientes, apostem na formação contínua e lutem pelo vosso sonho com determinação.”
A cerimónia culminou num ambiente de grande emoção e reconhecimento, evidenciando o impacto transversal de uma figura que marcou não apenas o campo da geociência em Portugal, mas também o quotidiano académico e humano da Universidade de Évora.
O legado científico e humano
Com dezenas de publicações, orientações de teses e participação em projetos internacionais, Mourad Bezzeghoud construiu uma carreira que uniu excelência científica, compromisso institucional e uma notável capacidade de mobilizar e inspirar. O seu legado ultrapassa as fronteiras da sismologia, estendendo-se a todas as áreas da Ciência que valorizam o rigor, a curiosidade e a humanidade.
A jubilação assinala o fim de um ciclo, mas não o fim do contributo de Mourad Bezzeghoud à Ciência. Como sublinhou a Reitora Hermínia Vasconcelos Vilar, “esperamos continuar a contar com a sua colaboração, agora com a liberdade de quem já cumpriu todos os deveres formais, mas mantém o entusiasmo de sempre.”
Questionado sobre quais foram os momentos mais marcantes ou desafiantes da sua carreira, Mourad Bezzeghoud recorda que um dos mais significativos foi o convite que recebeu do Centre de Recherche en Astronomie, Astrophysique et Géophysique (CRAAG), em Argel, para instalar uma rede sísmica telemétrica nacional e criar o Département de Surveillance Sismique. “Era um desafio exigente, mas aceitei com entusiasmo. Hoje, tanto a rede como o departamento tornaram-se referências na área.”
Esta experiência foi determinante para a sua trajetória profissional, permitindo-lhe aplicar e aprofundar os conhecimentos adquiridos em instituições como o Centro de Geofísica de Évora (CGE), o Instituto de Ciências da Terra (ICT) e, mais recentemente, o Centro de Investigação em Ciência e Tecnologia para o Sistema Terra e Energia – CREATE – da Universidade de Évora. “Sempre com avaliações positivas por parte da Fundação para a Ciência e a Tecnologia”, orgulha-se.
Deixando um legado na área da sismologia, aconselha os mais jovens, que estão agora a iniciar as suas carreias: “O percurso na área das geociências, em particular na investigação científica, é exigente e marcado por uma elevada taxa de precariedade — cerca de 50% em Portugal e mais de 80% na Alemanha. Apesar disso, o mais importante é não desistir. Se esta for verdadeiramente a sua vocação, deve manter-se resiliente, apostar na formação contínua e lutar pelo seu sonho com determinação.”
Questionado sobre um trabalho específico ou contributo de que se orgulhe particularmente, Mourad Bezeghoud responde, sem hesitar: “Tenho muito orgulho no meu contributo para o desenvolvimento da investigação no CGE, bem como em ter sido membro fundador do ICT e do CREATE. Destaco ainda a minha participação ativa em diferentes órgãos da Universidade de Évora, onde pude contribuir.”
Depois de décadas ao serviço da docência e da investigação, Mourad Bezzeghoud gostaria que a sua carreira fosse lembrada pelo “contributo para o desenvolvimento da sismologia na Universidade de Évora e pelo papel que tive na formação e orientação de jovens investigadores, incentivando novas gerações a seguir este caminho com rigor, paixão e espírito científico.”