Cinquentenário do 25 de Abril: Diálogos Sobre Democracia e os Caminhos para um Mundo Melhor

A abertura do evento ficou a cargo de Ana Telles, Vice-Reitora para a Cultura e Comunidade da Universidade de Évora, que destacou a importância de lembrar o 25 de Abril como um “exercício diário”, refletindo sobre os desafios atuais que ameaçam a democracia, tanto a nível global quanto no nosso país. Ana Telles lembrou ainda que, no dia 2 de abril de 1976, dez meses após o início dos seus trabalhos, a Assembleia Constituinte aprovou a Constituição de 1976, que entrou em vigor no dia 25 de abril desse ano.

O General Pedro Pezarat Correia, antigo militante da resistência contra a ditadura do Estado Novo, apresentou o livro Por um Mundo Novo, a Sério. Com uma carreira académica distinta e uma vida dedicada à luta pela liberdade, o General afirmou que a obra reflete os seus próprios valores e ideais, com uma proposta clara para um Portugal melhor. "Este livro não é apenas uma reflexão sobre o passado, mas um convite à ação no presente", sublinhou, reconhecendo as dificuldades da esquerda em lidar com as novas tecnologias e a crise política global. Alertou ainda para os riscos da utilização da Inteligência Artificial na guerra e a necessidade de garantir que a tecnologia esteja ao serviço da população, dentro dos valores de uma esquerda progressista.

No final do debate, Pedro Pezarat Correia destacou a relevância do ciberespaço no cenário contemporâneo, afirmando: “Quem domina o ciberespaço domina o mundo”. Este comentário reflete os desafios atuais relacionados com a tecnologia e o poder, bem como a crescente importância da informação digital na política global.

Adriano Pimpão, antigo reitor da Universidade do Algarve, ofereceu uma análise crítica da obra, destacando a profundidade e a complexidade das questões abordadas, especialmente na análise histórica e económica do desenvolvimento social sob uma ótica marxista. Pimpão também questionou a neutralidade da Ciência e o impacto do financiamento privado nas universidades, com ênfase nas implicações desse financiamento para a autonomia académica.

Já Jorge Araújo, presidente da Assembleia Municipal de Évora e ex-reitor da Universidade de Évora, trouxe ao debate um olhar crítico sobre o 25 de Abril de 1974, apontando a falta de um enquadramento teórico mais aprofundado em relação à Revolução dos Cravos. "Em cada parágrafo deste livro, encontro memórias, mas também questões que devemos continuar a discutir", afirmou.

Defensor de uma visão ética para a globalização, Carlos Zorrinho, professor da Universidade de Évora e antigo Eurodeputado, também se pronunciou sobre o futuro da esquerda; alertou para o enfraquecimento do Estado e a crescente centralização de poder nas mãos de grandes corporações, dando como exemplo Elon Musk.

Por fim, Pedro Ferraz de Abreu, autor do livro, fechou a sequência de intervenções destacando a importância das ciências, tanto exatas quanto sociais, e o papel fundamental da reflexão sobre temas como a privacidade, videovigilância e os desafios tecnológicos que afetam a liberdade individual.  "Devemos ousar refletir e questionar as verdades estabelecidas", concluiu, convidando a um envolvimento ativo de todos na construção de um futuro mais justo e democrático. O autor, um dos principais pensadores ligados à esquerda revolucionária durante a Revolução de Abril, trouxe uma perspetiva histórica sobre o impacto dos ideais de 1974 e sua evolução ao longo das décadas.

A conversa teve como objetivo refletir sobre os caminhos para um mundo melhor, a partir da análise das conquistas e desafios do 25 de Abril e suas implicações na sociedade portuguesa e global. O evento terminou com um apelo à reflexão sobre o futuro, destacando a necessidade de adaptação das ideologias e ações políticas aos tempos atuais.

Com esta última sessão, o Ciclo de Conversas Comemorativas do Cinquentenário do 25 de Abril na Universidade de Évora chegou ao fim, deixando um legado de debate e reflexão sobre os ideais da Revolução e os rumos da sociedade contemporânea.