Violência nos diferentes ciclos de vida em análise na Escola de Enfermagem da UÉ

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O “I Simpósio Internacional de Abordagem da Violência nos diferentes ciclos de vida” teve lugar no Auditório da Escola Superior de Enfermagem S. João de Deus da Universidade de Évora, no dia 12 de julho, no qual estiveram em análise as estratégias de deteção e acompanhamento das situações de violência doméstica contra crianças, mulheres e idosos (as) por profissionais da atenção primária nos contextos de saúde do Brasil e de Portugal.

Esta ação resulta do consórcio de investigação coordenado pela Universidade de Évora e pela Faculdade de Medicina de Botucatu – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, no Brasil, tendo como parceiros a Direção-Geral da Saúde, a Sociedade Portuguesa de Saúde Pública, e o Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), tendo obtido um financiamento, por concurso público, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Brasil. A sessão de abertura do encontro contou com a presença de Ana Telles, Vice-Reitora para a Cultura e Comunidade da Universidade de Évora, de Marta Chaves, em representação da Direção-Geral da Saúde, de Maria do Céu Marques, representante da Escola Superior de Enfermagem São João de Deus da UÉ, e de Pasqual Barreti, Reitor da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP/Brasil). 

“Este é um tema que, por variadíssimas razões – pessoais, familiares, profissionais –, me toca especialmente”, iniciou Ana Telles, Vice-Reitora da UÉ, recorrendo a uma metáfora para se referir ao enigma da esfinge e de “como este nos afasta do paradigma superficial da idade cronológica, fazendo-nos pensar para além das categorias artificiais dos grupos etários em que tendemos a arrumar os indivíduos que compõem a nossa sociedade. A constatação de Édipo é simples: mais do que ser criança, jovem, adulto ou idoso, cada um de nós é um universo de várias idades e diversas gerações, um repositório de educação, conhecimento e sabedoria, um ser complexo e multifacetado, uma pessoa cuja dignidade deve ser igualmente preservada em qualquer momento do seu percurso biológico. No entanto, nem sempre a consciência coletiva das nossas sociedades tem presente esse princípio, imperando ainda, em larga medida, visões parciais e enviesadas da natureza humana”, explicou.

“A crescente consciência social na denúncia das situações e apoio as vítimas é um fator fundamental para a reversão de comportamentos inadequados, mas impõe-se uma resposta societal alargada, na educação, na denúncia e apoio (tanto às vítimas como aos agressores), no tratamento destes últimos, na melhoria das condições de vida e trabalho que permitam um menor stress quotidiano, entre muitos outros vetores de intervenção”, prosseguiu a Vice-Reitora para a Cultura e Comunidade da UÉ. Recordando o compromisso da instituição pela aposta na oferta formativa na área da Saúde, salientou que a UÉ “tem procurado distinguir-se (com sucesso!) por uma abordagem holística que coloca a pessoa e a relação com o outro no centro dos cuidados de saúde. O papel deste simpósio alinha-se perfeitamente com a estratégia da Universidade de Évora para a saúde, mas também com os seus objetivos relativos à não discriminação e à promoção de uma cultura de paz, entendimento e dignidade para todos”.

Para Maria do Céu Marques, representante da Escola Superior de Enfermagem São João de Deus da UÉ, “considerando os inúmeros casos de violência ao longo do ciclo vital com os quais somos confrontados diariamente, urge refletir e debater acerca desta temática que é de extrema relevância”. Também Marta Chaves, em representação da Direção-Geral da Saúde, considera que “este primeiro simpósio simboliza um marco importante nesta parceria. A prevenção da violência assume uma grande importância no nosso plano de atuação, é um trabalho que tem vindo a ser consolidado no terreno, mas que exige continuidade e que se enfrente diversos desafios no setor da saúde”.

Pasqual Barreti, Reitor da UNESP/Brasil, chamou a atenção para os “números não mensuráveis, que são até, muitas vezes, invisíveis”, alertando para o combate à violência que decorre já há 4 anos, e que contempla a própria situação de doença que é “também de violência, tal como o processo de tratamento que pode implicar uma for necessária e que por isso é importante que os profissionais de saúde atuem com empatia”, realçou.

Contemplando dois momentos-chave de debate, foram partilhados os resultados nacionais e internacionais deste tipo de violência assim como lançado um estudo luso-brasileiro quantitativo, descritivo, transversal, dirigido a profissionais de saúde dos cuidados de saúde primários para analisar as estratégias de detecção e acompanhamento das situações de violência doméstica contra crianças, mulheres e idosos por profissionais da atenção primária nos contextos de saúde do Brasil e de Portugal, bem como os avanços alcançados e os desafios encontrados no decorrer deste projeto que conta com Anabela Coelho, docente do Departamento de Enfermagem da Universidade de Évora, como coordenadora representante de Portugal. “A violência contra crianças, mulheres e idosos, ou seja, a violência nos diferentes ciclos de vida, configura-se, como foi detalhado por todos os oradores neste Simpósio Internacional, um grave problema de saúde pública pelo impacto havido nos anos potenciais de vida perdidos, nas sequelas/traumas causadas nos indivíduos e nas suas famílias, bem como nos recursos gastos pelos diferentes sistemas de saúde mundiais. Atualmente os cuidados de saúde primários apresentam-se, reconhecidamente, numa posição privilegiada para a abordagem deste fenómeno, dado o contacto direto com as famílias ao longo do seu ciclo vital, garantindo a prestação de cuidados integrais a quem é potencial vítima, vítima ou perpetrador/a de violência”, concluiu Anabela Coelho. 

Publicado em 16.07.2024