Universidade de Évora destaca cooperação histórica singular no XIII Encontro de Ministros da Cultura da CPLP

Integrando o programa social da XIII Reunião Ordinária dos Ministros da Cultura da CPLP, em São Tomé e Príncipe juntando à Ministra da Educação, Cultura e Ciências do País a Ministra da Cultura de Portugal, o Ministro da Cultura de Angola, o Ministro da Cultura, Turismo e Promoção Artesanal da Guiné Equatorial e o Vice-Ministro da Cultura e Turismo de Moçambique, bem como os Embaixadores do Brasil, Cabo Verde e Portugal, foi pela Tutela anfitriã e pela Universidade de Évora promovida uma visita ao Museu Nacional de São Tomé e Príncipe.

 

As duas instituições colaboram já desde 2017 em diferentes eixos visando a salvaguarda do importante acervo conservado pelo Museu, fruto de uma cooperação histórica absolutamente singular entre Portugal e São Tomé e Príncipe que permitiu logo em 1976, no 1.º Aniversário da Independência Nacional, a inauguração de um espaço museológico que buscou representar e honrar meio século de História comum.

As palavras de Alda do Espírito Santo (1926~2010) nessa cerimónia de inauguração descrevem, com detalhe, o trabalho ciclópico de salvaguarda, inventariação e musealização então levado a efeito, em especial pela própria e por Álvaro José Ferreira da Silva, português que lecionava no Liceu Nacional e que em 1973 comissariara a deslocação a Portugal do grupo de tchiloli Formiguinha Boa Morte, patrocinada pela Fundação Calouste Gulbenkian e protagonizando diversas apresentações de enorme sucesso:

“Em 21 de Dezembro de 1974, quando os legítimos representantes do Povo de São Tomé e Príncipe entraram no País, o programa traçado (…) foi alertado da existência nas empresas agrícolas e na Câmara Eclesiástica, de um potencial artístico importante que importava centralizar como valor documental num Museu, que constituísse um património nacional que deveria ser salvaguardado.

Em Maio de 1975, o governo determinou a criação do Museu Nacional de São Tomé e Príncipe na cidade de São Tomé (…). Em 22 de Maio de 1975, as primeiras diligências foram efectuadas no sentido de se providenciar um inventário do património cultural existente.

Com a proclamação da Independência, logo no dia seguinte, a 13 de Julho de 1975, a Fortaleza de São Sebastião, onde até então estava instalado o Comando de Defesa Marítima colonial, foi integrada como departamento cultural do sector ministerial da Educação e Cultura. Todas as propriedades agrícolas de São Tomé e Príncipe foram visitadas e inventariadas as suas peças de arte. Uma larga consulta de investigação foi efectuada nos departamentos públicos e nas residências do Estado, no sentido de se recolherem todos os documentos históricos e artísticos.

Contactou-se a Camara Eclesiástica, detentora de um precioso património artístico e seguidamente recolheram-se todas as peças de interesse existentes nos departamentos de Estado e no Palácio do Povo, salvo uma ou outra peça oriental e quadros indispensáveis ao equilíbrio estético dos referidos imóveis, que foram cedidos num verdadeiro clima de cooperação e enviados à Fortaleza de São Sebastião. A Camara Municipal de São Tomé contribuiu com um substancial contingente de peças, representando algumas delas um relevante valor histórico. Muitos particulares, nacionais ou estrangeiros, enriqueceram o Museu com contributo de peças, que se encontram em fiel depósito ou até em propriedade absoluta” assim referiu Alda do Espírito Santo, Ministra da Educação Nacional e Cultura Popular em 1976.

Na alvorada da Independência, os são-tomenses escolheram trazer para o espaço da Fortaleza de São Sebastião o seu lugar de memória. E meio século mais tarde, a cooperação entre Portugal e São Tomé e Príncipe continua a pugnar pela preservação e valorização de um património valioso, a muitos títulos simbólico e único, desta feita no contexto de uma consolidada parceria entre o Ministério da Educação, Cultura e Ciências de São Tomé e Príncipe e a Universidade de Évora.

A Universidade possui um Pólo no País desde 2015, onde tem vindo a materializar ofertas formativas deslocalizadas – Pós-Graduações, Mestrados e Doutoramentos – que abrangeram, até ao momento, mais de 500 alunos e de 100 docentes. Como promotora ou parceira, prioriza ainda em paralelo uma forte componente de coordenação ou participação em projetos de apoio ao desenvolvimento, desde logo com o referido Ministério da Educação, Cultura e Ciências.

Em 2023, o último resultado desta cooperação permitiu implementar um projeto de inventariação do acervo do Museu Nacional e capacitação de quadros do próprio Ministério, co-financiado pela Cooperação Portuguesa através do Instituto Camões, no âmbito do qual se diagnosticaram de forma objetiva existências e estados de conservação: mais de 650 peças foram identificadas nas onze salas de exposição. O passo seguinte, desenhado entrementes pelas duas instituições, visa agora uma intervenção de fundo com cinco eixos prioritários: requalificação e remusealização da Fortaleza de São Sebastião; recuperação do acervo; conceção do novo projeto museográfico; desenho e implementação da estratégia de comunicação e visibilidade; e um programa formativo destinado a públicos-alvo complementares – crianças e jovens, quadros técnicos, quadros intermédios e quadros superiores – nas áreas do Património, Museologia, Conservação e Restauro e Turismo.

Num momento em que a ordem do dia é marcada pela questão candente das políticas de devolução de património cultural às antigas Províncias Ultramarinas, São Tomé e Príncipe destaca-se pela posição defendida também pelo Primeiro-Ministro do País, Patrice Trovoada, no início do mês corrente, quando sobre o relacionamento entre Portugal e São Tomé e Príncipe colocou a tónica em relações bilaterais voltadas, sobretudo, para o Futuro. Um futuro que poderá e deverá contar, como a visita-guiada aos titulares das pastas da Cultura da CPLP procurou evidenciar, com o Museu Nacional enquanto âncora privilegiada de desenvolvimento sustentado e sustentável.

Publicado em 13.05.2024