Saúde Mental em debate durante 3 dias na Universidade de Évora
Sob o mote “Saúde Mental Uma Prioridade para Todos”, a Universidade de Évora acolheu, nos dias 18, 19 e 20 de outubro, o XIV Congresso Internacional ASPESM que integrou o VI Seminário Internacional de Investigação em Enfermagem de Saúde Mental, momentos que colocaram em debate esta problemática atual e transversal a toda a sociedade, evidenciando a importância da necessidade de intervenção aos níveis clínico, científico, hospitalar e social, sugerindo a definição de uma estratégia nacional para promoção da saúde mental e mais literacia em saúde mental em diferentes contextos e ao longo da vida.
A 10 de outubro assinalava-se o Dia Mundial da Saúde Mental, poucos dias depois a Universidade de Évora proporcionou um espaço de diálogo e reflexão acerca deste Direito Universal que ocupa uma posição central nas prioridades da Organização Mundial de Saúde, procurando não só a sensibilização do público para a Saúde Mental, mas também a sua valorização, tendo colocado em debate os desafios à saúde mental em Portugal e os reptos para a década na melhoria das respostas em saúde mental para o cidadão.
No dia 18 de outubro teve lugar o VI Seminário Internacional de Investigação em Enfermagem de Saúde Mental “dedicado à investigação, a cursos práticos que permitem trazer a teoria para o contexto clínico, que envolveu mais de mil pessoas na divulgação de trabalhos científicos nesta temática da saúde mental, esperando que estes contribuam para novos passos de intervenção”, introduziu Carlos Sequeira, Presidente de A Sociedade Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental (ASPESM)*1.
Nos dias 19 e 20 de outubro o Auditório Nobre da Universidade de Évora foi palco do XIV Congresso Internacional ASPESM, uma oportunidade de divulgação dos trabalhos realizados em meio académico e nos cenários clínicos que permitiu analisar, debater e partilhar as boas práticas e as inovações que cada um dos participantes e intervenientes implementa nos seus contextos, assim como o “estado da arte” em Enfermagem em Saúde Mental.
“Felizmente há este boom relacionado com a saúde mental, finalmente estamos a dar papel de relevo a algo que é central no dia-a-dia, mas que tem de ser transformado em políticas e intervenções concretas. Se tomarmos a saúde mental como uma prioridade as próprias organizações são mais produtivas e acolhedoras para todos aqueles que nelas trabalham, nesse sentido, está a ser desenvolvido o Programa de Saúde Mental na Universidade de Évora procurando dar assim resposta às necessidades da comunidade académica”, explicou João Nabais, Vice-Reitor para as Políticas para a Vida na Universidade e Relações com a Comunidade.
Para a enfermeira Dora Franco, em representação da Seção Regional do Sul Ordem do Enfermeiros, “apesar de terem sido feitos alguns progressos em termos políticos ainda há um longo caminho a percorrer na literacia dos portugueses. Priorizar significa reduzir as desigualdades, é também investir no «ser pessoa», mais do que nas doenças. Os incentivos PRR devem suportar as políticas e as intervenções no terreno. A saúde mental deve estar nas pontes que nos ligam, que nos suportam e nos elevam, nos diálogos e nos debates”.
Catarina Martins, em representação do Diretor de Enfermagem do Hospital do Espírito Santo, destacou “a importância da abrangência desta área tão sensível da saúde mental”, realçando que o departamento de Psiquiatria e Saúde Mental do HESE é formado por enfermeiros com especialização na área, mas que integram também outras equipas, prestando, assim, cuidados diferenciados à população. “Temos cerca de 19 enfermeiros especializados na área da saúde mental e psiquiatria que estão presentes também no serviço de urgência e na unidade de cuidados intensivos, bem como na obstetrícia e na unidade de oncologia. É de facto uma mais-valia pela sua sensibilidade e a prestação de melhores cuidados aos nossos pacientes". Maria do Céu Marques, docente do Departamento de Enfermagem da Universidade de Évora e Subdiretora da Escola Superior de Enfermagem S. João de Deus, destacou o trabalho que a ESESJD “tem vindo a desenvolver ao nível da formação pós-graduada, mas também na investigação científica”.
O Vereador da Câmara Municipal de Évora, Alexandre Varela, enfatizou a importância que a Saúde Mental ocupa nos esforços diários da autarquia bem como nas suas preocupações futuras. “Trabalhamos diariamente com vários segmentos de população com vista à integração e inclusão das pessoas. Na candidatura de Évora a Capital Europeia da Cultura 2027 um dos aspetos fundamentais que organiza toda a candidatura é a relação do Homem consigo próprio, com o outro, com a natureza e com a humanidade, onde não foram esquecidas as questões associadas à saúde mental.”
Olhando para os principais desafios à saúde mental em Portugal, Carlos Sequeira, destaca aquilo que apelida de três «i´s». “Um desafio à saúde mental é a incerteza. Não estávamos preparados em Portugal para lidar com algumas incertezas que surgiram recentemente: a pandemia, a guerra. Outro desafio é a intolerância, e gastamos horas para lidar com a mesma, o que exige um trabalho multicultural. E, por último, o imediatismo. Queremos resposta automática às nossas necessidades, sem ponderar formas de nos adaptarmos a essas novas exigências. Não há tempo para a reflexão, para encontrar estratégias que não surgem logo no imediato, o que implica uma capacitação das pessoas para lidar com a adversidade, com o insucesso e com a frustração”. Para Anabela Pereira, docente do Departamento de Psicologia da UÉ, urge olhar para a ansiedade como “algo necessário pois é uma emoção natural. A questão preocupante é quando esta é desproporcional e pode evoluir para a doença ou quando é generalizada. A Lei de Yerkes-Dodson defende que níveis médios de ansiedade são ótimos para o funcionamento e precisamos deles. O que nos perturba são os níveis elevados, mas também os níveis baixos de ansiedade, que influenciam a nossa performance”, concluiu.
Para o debate em torno do mote «Saúde Mental Uma Prioridade para Todos» contribuíram também representantes de empresas da indústria farmacêutica como a Janssen, a Rovi e a Lundbeck, tendo o Congresso culminado num momento de atuação da tuna da Escola Superior de Enfermagem S. João de Deus da Universidade de Évora.
*1 Recorde-se que A Sociedade Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental (ASPESM) é uma associação científica, sem fins lucrativos, constituída por enfermeiros que se interessam pelo estudo e desenvolvimento da saúde mental, entendida num contexto multidisciplinar.