Projeto ALMADA distinguido nos Prémios Europeus do Património Cultural/Prémio Europa Nostra 2023

Projeto ALMADA, coordenado por Milene Gil, investigadora do Laboratório HERCULES da Universidade de Évora, premiado na categoria de envolvimento e sensibilização dos cidadãos nos Prémios Europeus do Património Cultural/ Prémio Europa Nostra 2023. O ALMADA - Desvendar da Arte da Pintura Mural de Almada Negreiros é um projeto multidisciplinar que utiliza a investigação científica para revelar a arte mural de Almada Negreiros, um dos artistas portugueses mais influentes do século XX, pelo que foi com “grande alegria que eu e a equipa do projeto ALMADA, soubemos da conquista do prémio EUROPA NOSTRA 2023 na categoria de envolvimento e sensibilização dos cidadãos" reage Milene Gil, considerando que a atribuição deste prémio à candidatura intitulada Project ALMADA is for Everyone anywhere [o projeto Almada é para todos em qualquer lugar] "é a confirmação de que estamos no caminho certo quando investimos na partilha de conhecimento e atraímos diferentes públicos para a causa patrimonial."

 

A investigadora da Universidade de Évora considera que "cada vez mais o património cultural deve ser entendido como um valor cultural e social que diz respeito a todos, em cuja valorização e proteção todos são importantes", mas para isso, sublinha Milene Gil, "é preciso conhecer e dar a conhecer, sendo  esta a missão dos investigadores do projeto ALMADA desde março de 2021".

Almada Negreiros “deixou-nos cinco núcleos de pintura mural moderna em linha com o que de melhor se fez na Europa e na América na primeira metade do século XX, pelo que nos últimos dois anos, a equipa pesquisou de forma sistemática várias das pinturas murais e comunicou os resultados da investigação de variadas maneiras para diferentes públicos, tanto pessoalmente quanto online.

A investigadora da UÉ frisa que pela primeira vez "visitantes foram convidados a subir aos andaimes durante as campanhas analíticas para falarem connosco e observarem as pinturas de perto. E isto é apenas um exemplo das muitas atividades realizadas que marcaram a diferença e que nos impulsionam a seguir em frente".

A investigadora recorda que entre 1938 e 1956, Almada Negreiros criou cinco conjuntos icónicos de pinturas murais modernas em Lisboa. “Estas obras de arte notáveis, localizadas no centro da cidade, são conhecidas pela sua qualidade artística e presença monumental. Infelizmente, até há pouco tempo, as mesmas tinham sido alvo de uma investigação material e técnica limitada e careciam de reconhecimento como património artístico e cultural, permanecendo desconhecidas do público em geral, em particular das gerações mais jovens”, lamenta Milene Gil,  

Este projeto segue assim uma política de ciência aberta, em colaboração entre o meio académico e os cidadãos, e o seu principal objetivo é aprofundar o conhecimento e conservar este importante elemento da vanguarda e do modernismo português.

Iniciado em março de 2021, o projeto ALMADA adotou uma abordagem inovadora para atingir estes objetivos. Utilizando instrumentos analíticos e de imagiologia de ponta, revelando novas informações sobre os materiais, as técnicas e o estado atual das pinturas murais. Através da análise dos fenómenos de deterioração, da identificação das causas e da avaliação dos riscos associados, este projeto estabelece orientações para a futura conservação e gestão sustentada das pinturas murais.

Desta forma, os investigadores envolvidos nas campanhas utilizam abordagens inclusivas, participativas e inovadoras para promover o acesso e o envolvimento do público. “Isto inclui chegar às comunidades locais e a audiências globais, melhorando a educação cultural através de ferramentas interativas, vídeos, workshops, visitas guiadas e palestras” dá a conhecer Milene Gil, onde  a estratégia «Everyone Anywhere» “é fundamental, uma vez que o apoio da comunidade e a sensibilização do público são cruciais para o sucesso da conservação do património cultural”.

Esta abordagem assenta numa visão interdisciplinar, colaborativa, transnacional e aberta, baseando-se na investigação histórica e técnica da história da arte, na análise científica e em atividades criativas de divulgação pública levadas a cabo pelo Laboratório HERCULES da Universidade de Évora em parceria com a Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC), o Instituto de História da Arte da Universidade NOVA de Lisboa (IHA-FCSH/UNL) e a Administração do Porto de Lisboa (APL).

“O Projeto ALMADA vai além de um simples restauro, explicando a ciência por detrás do processo, defendendo a importância da conservação e promovendo uma compreensão mais profunda da sua necessidade. Ao atrair e envolver um público vasto e diversificado, o projeto consegue sensibilizar para o significado dos murais do pós-Segunda Guerra Mundial e honra o legado de Almada Negreiros, uma figura influente na fase modernista de Portugal, acrescentando mais uma camada de significado aos seus esforços. Um aspeto notável do projeto é a oportunidade de ver de perto as pinturas murais, oferecendo uma experiência memorável”, referiu o júri deste Prémio.

O Projeto coordenado pela investigadora da academia alentejana, "leva a ação climática a sério, medindo o impacto das alterações climáticas nos murais e incorporando esta informação em futuros planos de gestão para a cidade. Utilizando ferramentas digitais, o projeto oferece também uma vasta gama de recursos didáticos em linha, fazendo a ponte entre o mundo académico e o público em geral”, acrescentou o Júri.

Para além deste projeto, a Universidade de Évora viu reconhecido um outro, liderado por Cláudio Torres, arqueólogo e Doutor Honoris Causa pela Universidade de Évora, na categoria "Campeões do Património" e cuja nomeação foi apoiada, desde a primeira hora, pela reitoria, pelo seu papel fundamental na valorização e conservação do património islâmico em Portugal, numa edição em que foram distinguidos 30 projetos de 21 países.

Os vencedores serão homenageados na cerimónia europeia de entrega dos prémios, que terá lugar no próximo dia 28 de Setembro, no Palazzo del Cinema, em Veneza, Itália.

No decorrer do evento – que contará com a presença de Cecilia Bartoli,  cantora lírica e presidente da Europa Nostra, e Margaritis Schinas, vice-presidente da Comissão Europeia - serão anunciados os vencedores do Grande Prémio e do Prémio “Escolha do Público” (em votação 'online'), escolhido entre os premiados deste ano, que receberão 10.000 euros cada.

A cerimónia será um dos pontos altos da Cimeira Europeia do Património Cultural 2023, organizada pela Europa Nostra com o apoio da Comissão Europeia, que irá decorrer de 27 a 30 de setembro, em Veneza.

 Sobre a Europa Nostra

A Europa Nostra é a voz da sociedade civil empenhada na salvaguarda e promoção do património cultural e natural da Europa. É a federação pan-europeia de organizações não-governamentais do património, sendo apoiada por uma ampla rede de entidades públicas, empresas privadas e indivíduos. Abrangendo mais de 40 países na Europa, a Europa Nostra é reconhecida como a mais representativa organização do património na Europa, colaborando com a União Europeia, o Conselho da Europa, a UNESCO e outros organismos internacionais. Fundada em 1963, a Europa Nostra celebra este ano o seu 60º aniversário. Em Portugal é representada pelo Centro Nacional de Cultura.

A Europa Nostra faz campanhas para salvar os monumentos, sítios e paisagens ameaçados da Europa, em particular através do Programa “Os 7 mais ameaçados”. Celebra e divulga a excelência através dos Prémios Europeus do Património Cultural / Prémios Europa Nostra. A Europa Nostra contribui ativamente para a definição e implementação de estratégias e políticas europeias relacionadas com o património, através de um diálogo estruturado com as Instituições Europeias e a coordenação da Aliança do Património Europeu.

Desde 1 de maio de 2023, a Europa Nostra lidera o consórcio europeu selecionado pela Comissão Europeia para executar o projeto-piloto Hub Europeu do Património Cultural, do qual o Centro Nacional de Cultura é parceiro. A Europa Nostra é também parceira oficial da iniciativa Nova Bauhaus europeia desenvolvida pela Comissão Europeia e é Regional Co-Chair para a Europa do Climate Heritage Network

Sobre a Europa Criativa

Europa Criativa é o programa da União Europeia de apoio aos sectores cultural e criativo capacitando-os de forma a aumentar a sua contribuição para a economia e a sociedade. Com um orçamento de 2,4 mil milhões de euros para o período 2021-2027, o programa apoia organizações que atuam nos domínios do património, das artes cénicas, do cinema, da música e da televisão, entre outros, bem como dezenas de milhares de artistas e profissionais da cultura e do audiovisual.

Publicado em 14.06.2023