Lua de Sangue de Ana Telles com apresentação agendada na Academia das Ciências de Lisboa

O lançamento do livro "Lua de Sangue", de autoria de Ana Telles, Professora e Diretora da Escola de Artes da Universidade de Évora, que conta com ilustrações de Adriana Valente e prefácio de António Saez Delgado, terá lugar no Salão Nobre da Academia das Ciências de Lisboa, no próximo dia 19 de junho de 2023, pelas 18h00. O evento contará com a apresentação do livro por Fernando Dacosta, e será enriquecido com a leitura de excertos por Anabela Monteiro, Daniela Mendonça e Pedro Cunha, e ainda por intervenções musicais pela própria autora, Ana Telles, ao piano, e por Monika Streitova (flauta transversal), Luís Gomes (clarinete baixo), e Luísa Amaro e Mafalda Lemos (guitarra portuguesa).

Lua de Sangue, como afirma a autora, "é um fenómeno raro e efémero, um jogo de luz, sombra e reflexo, tal como cada existência humana. Este livro é feito de fragmentos de um desses percursos: o meu…”. Sobre o mesmo,  Antonio Saez Delgado frisa na sinopse "este livro é ao mesmo tempo vários livros, porque são várias as vozes nele invocadas para desvelar aos olhos do leitor as diferentes formas e máscaras da identidade e da passagem do tempo”.

Em entrevista à Universidade de Évora, Ana Telles, confidencia “a escrita criativa acompanha-me desde muito cedo. Inclusive, quando me encontrava a estudar Música (Interpretação) em Nova Iorque. Nessa época, chegou a ponderar fazer um minor nesse domínio, “embora tenha colocado a ideia de parte porque senti que era importante deixar uma das minhas vertentes criativas completamente livre e "indomada", sendo que o aperfeiçoamento musical exigia já um enquadramento muito sério e regrado”.

A este respeito a diretora da Escola de Artes da UÉ refere mesmo “nos anos mais recentes, a par e passo do desenvolvimento da minha vida profissional, nomeadamente perante os imensos e apaixonantes desafios que a Direcção da Escola de Artes da Universidade de Évora me tem colocado (e que tenho abraçado com muito gosto), tenho sentido como nunca antes a necessidade de repor energias; ora, para mim, essa "regeneração" passa muito pelo contacto com a família, com os amigos e com a natureza, mas também por processos criativos”.

"A escrita ganhou renovado significado nesse contexto", explica a autora, contando que "(...) a ideia do livro surgiu em conversa com colegas que muito estimo, e cujo estímulo foi essencial para que eu me decidisse a tirar os textos que compõem o livro, de épocas muito distintas, da gaveta a que sempre os condenara”. 

“A dimensão de partilha que está subjacente faz parte, também, das minhas estratégias pessoais para estar bem, comigo e com os outros, apesar da sobrecarga de trabalho e responsabilidade. Dito isto, este livro não tem quaisquer pretensões, a não ser a de dar voz a uma das minhas vozes... Como em qualquer processo criativo, se puder emocionar outras pessoas e estabelecer assim uma forma de comunhão e entendimento com elas, sentir-me-ei plenamente recompensada” 

Questionada sobre se "Lua de Sangue" é simultaneamente um olhar sobre o Eu interior e um convite ao leitor, para que, também ele, mergulhe nestes paradigmas, Ana Telles é perentória em afirmar “quando escrevo (mas também quando toco piano), é certamente o meu "eu interior" que fala e tenta comunicar. Mas há também uma dimensão de contemplação daquilo que me circunda, e uma tentativa de dar a ver a beleza que encontro na experiência da vida. Muitas vezes, quando vejo uma fotografia ou uma pintura, imagino que o autor tenha querido fixar, tanto quanto isso é possível, um aspecto do real que o impactou emocionalmente, e que poderá impactar outros."

Para a autora de Lua de Sangue, “cada um dos textos do livro representa um "quadro" da experiência multiforme que me tem sido dado viver; o meu olhar, despretensioso, sobre cada um desses "instantes virgens de eternidade", cristaliza-se assim para criar memória e ir ao encontro do leitor, que terá uma experiência comparável à, ou muito diferente da, minha; esse cruzamento é um diálogo que nem sempre se ouve ou se articula, mas não deixa de existir...”.

Já sobre o que pretende transmitir ou que mensagem pretende deixar ao leitor, a autora é mais reticente, “essa é uma pergunta à qual não consigo responder cabalmente... Há uma ideia que atravessa o livro, que tem a ver com a busca da beleza em tudo o que vivemos e nos rodeia, e o reconhecimento da sua utilidade extrema, enquanto antídoto às dificuldades que forçosamente temos de ultrapassar ao longo do nosso percurso, enquanto fonte de energia criativa e propulsor da nossa existência. Essa busca da beleza pode, inclusive, acontecer de maneiras muito inesperadas, em situações talvez até globalmente, ou francamente, negativas... mas é, no meu entender, salvífica!”

Se esta obra é um exercício ao mais profundo de nós próprios, Ana Telles, volta a sublinhar que não tem quaisquer pretensões com este livro, “não posso profetizar sobre a sua capacidade de conduzir o leitor ao mais profundo de si próprio, mas - claro está - ficaria imensamente feliz se percebesse que, pontualmente, ele facilitaria essa viagem individual de cada um que o ler...”. Naquilo que lhe diz respeito, “habituada que estou a escrever texto de índole científica, cumprindo os critérios estabelecidos de validação e os códigos de partilha vigentes, senti agora a necessidade de assumir a voz mais íntima que fala em mim, tal como o faço (usando outra linguagem, a musical) nos meus concertos...”

Pianista aclamada pelas suas interpretações, Ana Telles, segreda-nos que a escrita pode cruzar-se com a música e como esta pode influenciar a narrativa que encerra a obra, justificando que “a música faz parte de mim de um modo inalienável, "visceral", como refiro a dada altura do livro. Quando não estou ativa nesse domínio, ainda que por poucos dias, sinto-me em desequilíbrio. Por isso, era inevitável que ela assumisse um papel importante nas reflexões que compõem Lua de Sangue, nomeadamente num dos "cadernos" que o compõem. 

A ilustração é uma das características distintivas desta obra. Pelo que questionada sobre relação entre as ilustrações de Adriana Valente e os textos, Ana Telles, evidencia  “o facto da Adriana ter feito estas ilustrações, ainda antes de eu imaginar publicar os textos, foi uma revelação. De facto, as propostas dela para cada um dos "cadernos" que compõem o livro devolveram-me uma leitura do conteúdo que me pareceu mágica, pois traduzia em linhas, traços e cores, de maneira elegante, sintética e, a meu ver, muito bela, a essência do que eu tratava em cada um deles. A existência dessas ilustrações foi, aliás, um dos fatores que determinaram a minha decisão de avançar com a publicação. Devo à colega Célia Figueiredo, de quem partiu a ideia, e à nossa extraordinária estudante Adriana Valente, toda essa dimensão, profundamente enriquecedora, do projecto”

 Refira-se que as ilustrações e o design de Lua de Sangue são da estudante de Design  da Escola de Artes da Universidade de Évora ( EArtes-UÉ), Adriana Valente, sob a orientação de Célia Figueiredo, Professora de Design da EArtes-UÉ. A sinopse de apresentação, que consta da contracapa, tem a assinatura de Antonio Saez Delgado, Professor de Línguas e Literatura.  

No âmbito do lançamento em Lisboa, serão lidos excertos por estudantes da Licenciatura em Teatro (EArtes / UÉ), Anabela Monteiro, Daniela Mendonça e Pedro Cunha, orientados por Marcos Santos, professor do Departamento de Artes Cénicas. Para além da autora de " Lua de Sangue", a componente musical do evento terá a participação de Luís Gomes e Monika Streitova, professores do Departamento de Música da EArtes - UÉ. 

Publicado em 01.06.2023