Vencedora do Prémio Camões 2021 participa em encontro com estudantes da UÉ

No dia 10 de maio, a sala 126 do Colégio do Espírito Santo (CES) na Universidade de Évora (UÉ), vestiu-se de estudantes, membros da academia, e eborenses, que quiseram conhecer de perto Paulina Chiziane, a primeira mulher africana a ser reconhecida com o Prémio Camões, o mais prestigiado galardão literário e cultural de língua portuguesa.

A sala tornou-se pequena para dar lugar a todos aqueles que se faziam acompanhar de obras da autora. Num encontro informal, Paulina Chiziane, contadora de histórias, como se autoproclama, arte que aprendeu com a sua avó, convidou o público à cumplicidade das suas histórias. Numa só voz, onde se privilegiou a proximidade, levou os ouvintes a participar ativamente nas histórias que partilhou. Numa fogueira fictícia, falou de amor, das mulheres, da desigualdade social, e de tantas outras formas de denuncia dos fossos sociais que experienciou em Moçambique.  “Enquanto escrevo vou-me colocando num pedaço de papel para que os outros me conheçam. A escrita é terapia para mim, mas é também espaço para negociar os meus direitos e os de quem não tem voz”, afirmou.

Considerada a primeira mulher a publicar um romance em Moçambique, começou a sua vida pública, em termos literários, nos anos oitenta do século XX e tem sido uma das principais vozes femininas na literatura moçambicana pós-independência. “A literatura é veículo de afirmação, é de negociação de identidade, mas também é um mecanismo que serve para ajudar as pessoas a ganhar uma nova consciência. A literatura tem várias funções”. Através da sua obra, Paulina Chiziane revisita, com uma perspetiva pós-colonial e profundamente feminina, diferentes temáticas inerentes à sociedade moçambicana. “Há tantas vozes silenciadas… há pessoas consideradas secundárias, como por exemplo, aquelas que se encontram na prisão e que dificilmente falam ou contam a sua história. Por outro lado, há pessoas marginalizadas pela moral social. Ao longo do meu trabalho tive a oportunidade de conversar com indivíduos que estão na prisão por terem cometido os mais variados crimes, gente que matou ou roubou, mas também aqueles que simplesmente tiveram o azar de ir injustamente para a prisão. E a literatura tem o poder de conseguir que essas vozes sejam ouvidas”, destacou.

Em troca do intercâmbio cultural que deixou a todos os presentes leva a “saudade” que já sente de Évora antes de partir. “Sempre que vim a Portugal a minha relação com os leitores portugueses, as pessoas comuns de Portugal, tem sido extraordinária. Levo grandes memórias e recordações. Ainda há pouco comentava com a minha filha que ainda nem partimos e já começo a sentir saudades. Vivemos momentos tão bons de acolhimento e de partilha… é extraordinário”, concluiu. 

Publicado em 23.05.2023