Ondjaki recebe Prémio Vergílio Ferreira 2023

O escritor Ondjaki recebeu o Prémio Vergílio Ferreira no mesmo dia em que esteve reunido com estudantes da Universidade de Évora. Para a Reitora da UÉ, Hermínia Vasconcelos Vilar, este “é um momento de grande alegria porque estamos a homenagear um grande escritor que utiliza a língua portuguesa e que a reinventa” referiu na cerimónia de entrega deste galardão que decorreu no dia 1 de março, na sala de Docentes do Colégio do Espírito Santo, contando, entre outros, com a presença do Embaixador de Angola em Portugal, Carlos Alberto Fonseca.

Numa sala completamente cheia para escutar o escritor angolano Ondjaki, Hermínia Vasconcelos Vilar referiu que “com este prémio a Universidade de Évora compromete-se e assume o compromisso de olhar a literatura e os estudos literários como elemento central da sua atividade e da formação que ministra, enquanto Universidade responsável pela formação das jovens gerações de cidadãos e, esperamos, de leitores”, referiu, deixando o agradecimento público ao escritor  “e a todos os que me, nos foram formando através de todas essas experiências que a leitura me, nos têm permitido” acrescentou. Para Antonio Sáez Delgado, professor da UÉ e presidente do júri, a obra de Ondjaki é “um canto à identidade africana e à formidável energia cultural daquele continente”. Para o professor do Departamento de Linguística e  Literatura, o escritor agora galardoado, “é também uma alternativa plural da interpretação da realidade da história através da ficção". Uma alternativa que, como salientou, "é um apelo à responsabilidade individual e social, transformando a língua portuguesa numa língua de reconciliação”. O mesmo professor realçou ainda que “a literatura de Ondjaki cria sentido crítico no leitor e cria pontes entre os diferentes países”. Presente na cerimónia, o Embaixador de Angola em Portugal, Carlos Alberto Fonseca considerou este momento “motivo de satisfação e de alegria por ser entregue a um escritor angolano”, um nome "destacado nas letras que tem dado a conhecer muito da nossa realidade e dos nossos valores através da literatura, cuja obra se encontra traduzida em muitas línguas que tem permitido levar Angola para o mundo”.

Ondjaki, na sua intervenção, e mais tarde em declarações aos jornalistas, apelou ao diálogo, “entre os nossos países que têm que continuar com maior abertura dada as características históricas e culturais de cada país..." Assim, afirnou "a Angola possa respeitar o Brasil e Portugal possa respeitar a Guiné (...), no sentido em que temos que deixar os outros falarem. Todos nós temos uma ideia pré-concebida sobre o outro e ao ouvir o outro devemos refazer essa pré-ideia” considerou o premiado apelando a maior compreensão e união.

Nota ainda para a leitura de textos por estudantes do curso de Línguas e Literaturas da Escola de Ciências Sociais e para os momentos musicais protagonizados por estudantes do curso de Música da Escola de Artes, que presentearam o público com música e histórias do escritor.

A anteceder a cerimónia de entrega do prémio Vergílio Ferreira, Ondjaki esteve com estudantes da UÉ onde o escritor evidenciou o seu sentido de humor e mostrou ser um exímio contador de estórias para gáudio dos presentes.

Recorde-se que o júri, na sua apreciação, destacou “o contributo que Ondjaki faz para que a língua portuguesa seja língua de reconciliação e mesmo de consciência crítica para todos os falantes de português”, acrescentou a UÉ. Instituído pela UÉ em 1996, para homenagear o escritor que lhe dá o nome, o Prémio Vergílio Ferreira destina-se a galardoar anualmente o conjunto da obra literária de um autor de língua portuguesa relevante nos domínios da ficção e/ou ensaio.

Ondjaki é o pseudónimo literário de Ndalu de Almeida. As suas obras, incluem poemas, como “Actu sanguíneu”, contos, designadamente “Momentos de aqui”, livros infantis, como “A bicicleta que tinha bigodes”, ou romances, nomeadamente “Quantas madrugadas tem a noite” e “Bom dia, camaradas”.

Publicado em 04.03.2023