Opinião

O Mundo, Portugal e o Mediterrâneo: o Mediterrâneo e a Universidade de Évora

Por Marta Laranjo

Dia do Mediterrâneo é assinalado pela primeira vez, a nível mundial, este ano 2021, no dia 28 de novembro. Esta efeméride tem como objetivo promover uma identidade comum, uma cultura mediterrânea que existe para além daquilo que é a enorme diversidade da região do Mediterrâneo.

Porquê o dia 28 de novembro? Foi a 28 de novembro de 1995 que foi lançado o Processo de Barcelona, em que os ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia (UE) e dos vários países do sul e do leste do Mediterrâneo assinaram um compromisso “de transformar a região num espaço comum de paz, estabilidade e de progresso socioeconómico partilhado e de diálogo entre povos”. Este compromisso, assinado na primeira Conferência Euro-Mediterrânea em Barcelona, levou à criação da União para o Mediterrâneo (UpM) em 2008, da qual fazem parte atualmente todos os países da União Europeia e 15 países do sul e do leste do Mediterrâneo, num total de 42 estados-membros.

A região do Mediterrâneo é vasta, com perto de 500 milhões de habitantes, e estende-se por três continentes.

A Dieta Mediterrânica, declarada a Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO, em 4 de dezembro de 2013, foi considerada pela Organização Mundial de Saúde como “um padrão alimentar de excelência pela sua qualidade nutricional e importância na prevenção das doenças e promoção da saúde comunitária.”

A Dieta Mediterrânea é um modelo de dieta que inclui competências, conhecimentos, práticas e tradições relacionadas com a alimentação, farm-to-fork, que envolvem também a conservação, transformação e preparação dos alimentos, bem como o seu consumo num ambiente de convivialidade.

Podemos considerar Portugal um país do Mediterrâneo? Apesar de Portugal não ser banhado pelas águas cálidas do Mar Mediterrâneo, a sua influência é evidente no clima, na paisagem, nos sistemas agrossilvopastoris e na gastronomia. O Montado, ex-líbris do Alentejo é paisagem recorrente também a sul do Mediterrâneo por terras de África. Na culinária salientam-se o azeite e o vinho, como alguns dos mais emblemáticos produtos alimentares portugueses exportados para todo o mundo.

Portugal faz parte da História do Mare Nostrum, um espaço cultural que naturalmente integramos desde a Antiguidade, contribuindo para o enriquecimento da sua identidade e diversidade. O Mediterrâneo foi, para Portugal, o campus de formação para a aventura Atlântica.

O MEDITERRÂNEO é uma das áreas-âncora de acordo com as quais as atividades de investigação desenvolvidas na Universidade de Évora se têm vindo a estruturar, em que a Agricultura, a Alimentação e o Ambiente, também ocupam um lugar central. A Universidade de Évora é Representante de Portugal no Steering Committee do Programa PRIMA (Partner Research and Innovation for the Mediterranean), até 2020. Há muito que a instituição dedica especial atenção, investigando e desenvolvendo tecnologia, a áreas estratégicas tradicionalmente definidoras do mediterrâneo, como a vinha, o olival ou o Montado, e os seus produtos, o vinho, o azeite e a cortiça, bem como a todos os ecossistemas relacionados.

Esta grande ligação da Universidade de Évora ao Mediterrâneo não é de agora. De facto, a Universidade de Évora é membro da UNIMED-União das Universidades do Mediterrâneo desde a sua fundação em 1991. O Professor Filipe Themudo Barata foi durante quase 30 anos o rosto da UNIMED dentro da nossa Universidade. No entanto, em 2017, já durante o mandato da atual Reitora, criou-se formalmente um Gabinete UNIMED na Universidade de Évora e lançou-se uma nova sub-rede da UNIMED em Alimentação & Água coordenada pela Universidade de Évora . Esta sub-rede está fortemente ligada à investigação que faz num dos maiores centros de investigação do país, com sede aqui na Universidade de Évora, o MED. De facto, na Universidade de Évora estamos bastante interessados em estabelecer consórcios com outros países do Mediterrâneo para desenvolver investigação nesta área.

O MED-Instituto Mediterrâneo para a Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento é uma grande unidade de I&D, claramente multidisciplinar, e focada na sustentabilidade de ecossistemas e sistemas alimentares no contexto mediterrânico. Nas palavras da sua Diretora Teresa Pinto Correia “Somos um parceiro fundamental e dinâmico no Mediterrâneo Ocidental e desencadeamos novas abordagens para a investigação respondendo em simultâneo, às expectativas da sociedade.”

Desta cooperação euro-mediterrânica, no âmbito da UNIMED, resultou já um projeto ERASMUS+ aprovado, com um consórcio liderado pela Universidade de Évora, e que inclui também a Universidade de Barcelona, o Instituto Agronómico e Veterinário Hassan II, a Escola Nacional de Agricultura de Meknès, a Universidade Ibn Tofail, a Universidade Mohammed Premier, e a UNIMED.

O projeto FoSaMed-Enhancing Food Safety in the Mediterranean é um projeto concebido para desenhar um programa de Mestrado em Segurança dos Alimentos, que será numa fase piloto implementado em Marrocos, em quatro Universidades, mas para o qual a ideia futura é a de estabelecer um mestrado internacional.

A região do Mediterrâneo tem uma história, uma cultura e uma identidade comuns que importa defender e preservar. O Dia do Mediterrâneo de ser assim entendido, em espírito de unidade, de comunidade da região, como uma celebração da diversidade, salientando as semelhanças que superam largamente as diferenças.

A Universidade de Évora mantem o compromisso de desempenhar um papel de relevo no desenvolvimento de atividades de investigação na área do Mediterrâneo e de estabelecer as parcerias necessárias para o reforço da cooperação euro-mediterrânica.

Publicado em 28.11.2021