Sandra Leandro é a nova diretora Museu Nacional Frei Manuel do Cenáculo

Sandra Leandro, Professora do Departamento de Artes Visuais e Design da Universidade de Évora (UÉ) é a nova diretora do Museu Nacional Frei Manuel do Cenáculo (MNFMC), em Évora. Evidenciar as coleções no panorama nacional e internacional e continuar a construir uma "Casa Comum e muito amada" estão na génese do seu projeto.

O anúncio foi feito ontem, dia 25 de fevereiro, pela Direção-Geral do Património Cultural (DGCP), que escolheu os novos diretores para museus e monumentos através de concursos internacionais. A Professora da UÉ mostra-se “radiante” e considera “uma responsabilidade muito prazerosa” assumir este cargo alcançado graças ao “fruto do trabalho de muitos anos”.

Vendo o seu esforço compensado, “agora tenho a felicidade de poder dizer que é um sonho em vias de concretização”, enfatiza Sandra Leandro que assume a direção deste Museu de referência, o único Museu Nacional abaixo do Tejo, no próximo mês de junho e que se distingue “pela sua coleção riquíssima e eclética, onde se listam Tesouros Nacionais e alberga núcleos significativos de Arte e Arqueologia, a que acresce uma Coleção de História Natural (Ciências da Terra e Ciências da Vida) e ainda um conjunto de objetos científicos (Ciência e Técnica),” enumera a professora da academia eborense. Dos seus núcleos realça a coleção de Pintura, “cujo extenso arco cronológico assenta entre os séculos XV e o XX, mas as notáveis coleções de Arqueologia, os elementos arquitetónicos oriundos de monumentos da cidade, a tumulária, as coleções de têxteis, de ourivesaria, de mobiliário têm grande importância”, realça Sandra Leandro, Doutorada em História da Arte Contemporânea.

A pensar no futuro a diretora deste museu nacional pretende “não só evidenciar as suas coleções no panorama nacional, mas também internacional”, até porque este “tem potencial para isso e basta lembrar os horizontes largos do atual patrono do Museu e o seu fabuloso Gabinete de Curiosidades/Realidades”, referindo-se a Frei Manuel do Cenáculo, figura de relevo da cultura portuguesa setecentista.

Sobre o projeto que pretende para o museu, Sandra Leandro começa por referir a importância dos recursos humanos no funcionamento deste; “em primeiro lugar desejo valorizar a equipa que há anos está no terreno e dar espaço aos sonhos e possibilidades de concretização de cada um; cada membro da equipa e a comunidade que queremos cativar são também Tesouros Nacionais e Internacionais”. Exposta a relevância das "Pessoas" para a sua direção, acrescenta que “procurará por todos os meios aumentar o quadro de pessoal”, um objetivo que considera “essencial” para o presente, mas também para o futuro do museu.

Também a necessidade de captar recursos financeiros estão nos planos de Sandra Leandro; “é, naturalmente, uma grande preocupação e será vital para poder concretizar tudo quanto foi planeado” sublinha, até porque, como é do conhecimento público, o “MNFMC foi particularmente sub-orçamentado” e para aumentar a receita deste espaço cultural da cidade “é importante que quem nos visita receba estímulos não só visuais, mas também intelectuais em atividades que promovam o conhecimento que vai além de alguns curricula escolares e académicos”. De resto, acrescenta estar disponível para ouvir “as sugestões de investigadores, de professores de todos os graus de ensino e de qualquer pessoa que queira falar connosco”.

Neste capítulo, Sandra Leandro convoca aqui a mobilização da Academia e “produzir conhecimento em parceria com todo o meio académico e extra-académico quer nacional, destacando naturalmente a Universidade de Évora, quer internacional, tentando disseminar o saber o mais possível”. Sandra Leandro reforça ainda participação com a Universidade de Évora, pela “articulação com os Centros de Investigação e os Laboratórios da nossa Universidade, como por exemplo o HERCULES, será crucial e naturalmente com os seus Departamentos e Escolas, como a de Artes, também” sublinha.

O trabalho conjunto é, aliás, “um dos desígnios” desta direção que pretende “produzir um catálogo geral do Museu e desenvolver e concretizar uma programação que cative o público local, nacional e internacional”.

Outro dos objetivos propostos é “tentar criar possibilidades diversas para a comunidade se dispor a contemplar e viver quer num tempo com pressa, quer num tempo sem pressa, tendo também em conta o momento peculiar que vivemos” assinala desta forma Sandra Leandro apelando à fruição deste espaço por parte de todos o que pretendam conhecer e particularmente valorizar, além das “sinergias naturais” a estabelecer com outros Museus Nacionais, “porque é importante criar sinergias efetivas com outros equipamentos culturais da Rede de Museus de Évora”.

Em suma, “todo o plano que gizei assenta numa programação que procurará proporcionar uma oferta cultural que inspire e atraia públicos diversificados que incite a uma cidadania participativa, a valores de justiça social, igualdade, paridade, inclusão, preocupação ambiental, entre outros” resume Sandra Leandro, lembrando ainda que, “num tempo em que a renovação digital se impõe e o meu programa faz disso eco, a humanização das instituições e o valor do saber fazer manual, parece-me igualmente essencial e farei disso bandeira”.

A promessa deixada é a de um museu “de portas abertas para todos”, procurando “em equipa, e com humor continuar a construir uma Casa Comum e muito amada” respeitando o seu percurso histórico, cuja origem remonta a Frei Manuel do Cenáculo e à fundação de um pequeno museu anexo à Biblioteca Pública de Évora em 1805, transformam o MNFMC numa instituição incontornável para se conhecer e compreender a história e as manifestações artísticas e culturais de Évora, da região e do todo nacional.

Recorde-se que a realização de concursos para as direções de 18 equipamentos culturais da Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) – pela primeira vez com dimensão internacional – enquadra-se no novo regime jurídico de autonomia de gestão, e tem estado a decorrer em três fases.

Publicado em 26.02.2021