UÉ sobre os 10 anos do desastre na Ilha da Madeira

Há 10 anos, a 20 de fevereiro de 2010, ocorreu na ilha da Madeira um evento de precipitação extraordinariamente elevada que esteve na origem de deslizamento de terras com grandes perdas materiais e uma enorme tragédia humana. O estudo desenvolvido no Instituto de Ciências da Terra, (IST), Universidade de Évora, (UÉ) em colaboração com o IPMA, melhorou, entre outros parâmetros, o entendimento sobre os diferentes ambientes atmosféricos.

Após uma década da ocorrência deste fenómeno natural, o estudo desenvolvido no Instituto de Ciências da Terra, Universidade de Évora, em colaboração com o IPMA, “melhorou o entendimento sobre os diferentes ambientes atmosféricos e os mecanismos que favorecem a ocorrência de precipitação intensa na ilha da Madeira e os seus padrões espaciais” avança Flavio Couto. Para o investigador do IST da UÉ, “o conhecimento adquirido fornece elementos úteis à previsão meteorológica deste tipo de eventos”.

Em relação a ambientes de larga escala, Flavio Couto sublinha que “verificou-se que os eventos mais significativos foram favorecidos por sistemas meteorológicos, assim como pelo transporte meridional de humidade por meio de estruturas denominadas «Rios Atmosféricos». Entretanto, o principal fator identificado favorecendo os eventos de precipitação intensa esteve relacionado com a orografia local”. Para este investigador, “o terreno complexo da ilha favorece a ocorrência de precipitação estacionária induzida orograficamente sobre as terras mais altas, embora a precipitação nas zonas costeiras possa ser produzida por um efeito localizado de bloqueio. Estes sistemas precipitantes orográficos apresentaram diferentes estruturas, associados a convecção pouco profunda e profunda”, esclarece o investigador. 

O estudo levado a cabo pela equipa da UÉ mostrou que “a combinação entre as características do escoamento atmosférico, a quantidade de humidade, e a orografia são os condimentos essenciais para o desenvolvimento da precipitação sobre a ilha, atuando de maneira a definir as regiões de precipitação excessiva", conclui. 

Recorde-se que, segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera, na origem do fenómeno esteve um sistema frontal de forte atividade associado a uma depressão que se deslocou a partir dos Açores, pelo que o choque da massa de ar polar com a tropical deu origem a uma superfície frontal que, aliada à elevada temperatura da água do oceano acelerou a  condensação, causando uma precipitação extremamente elevada num curto espaço de tempo.

Publicado em 26.02.2020