Escritor Paulo Faria em Conferência na UÉ

O escritor Paulo Faria foi o primeiro convidado a ser recebido na Universidade de Évora (UÉ) no âmbito do projeto Ponto de Fuga do Movimento 14-20 a Ler, do qual o Departamento de Linguística e Literaturas é parceiro. Esta iniciativa propõe-se a encorajar a leitura e a escrita entre os jovens dos 14 aos 20 anos de idade, através de uma convergência de linguagens e espaços de expressão.

Nesta conferência, Paulo Faria, que para além de escritor também tem uma extensa carreira como tradutor literário de autores como Jack Kerouac, James Joyce, Don DeLillo e Cormac Mc Carthy, convidou os estudantes da UÉ a embarcarem numa viagem aos tempos da Guerra Colonial portuguesa, através da apresentação do livro “Estranha Guerra de Uso Comum”.

O escritor já dava algumas pistas do tema a ser apresentado através do mote que escolheu para a conferência, “A Guerra foi o que tivemos em vez de uma infância feliz”. E foi a partir desta frase que Paulo Faria explicou a história que está por detrás do seu livro, uma relação tempestuosa com o seu pai, que em outubro de 1967 embarcou para Moçambique como alferes médico do exército português. E foi em 2013, aquando da morte do seu pai, que o autor sentiu a necessidade de escrever um romance sobre a guerra colonial, depois de ter crescido a ouvir alguns dos relatos de guerra, embora pouco detalhados.

Paulo Faria referiu, em modo de paralelismo, o livro “Maus”, uma novela gráfica onde Art Spiegelman, autor da obra, relata a história do seu pai, um judeu polaco que sobreviveu ao Holocausto. O autor norte-americano utilizava o tempo de conversa sobre o Holocausto para se entender melhor com o pai, uma forma de se relacionarem, exemplo que, mais tarde, Paulo Faria quis reproduzir com o seu pai, mas que se tornou impossível já que este sofria de Alzheimer. Deste modo, o livro “Estranha Guerra de Uso Comum” baseia-se em eventos relatados pelo pai do autor, de fotografias e objetos guardados em casa, mas maioritariamente de informação adquirida em depoimentos de alguns dos homens que pertenceram ao mesmo batalhão que o pai do autor.

Um milhão e quinhentos mil militares portugueses estiveram na guerra colonial, o que demonstra que este acontecimento histórico faz parte de praticamente todos os lares portugueses, havendo um sentimento de pertença. E é com esta mensagem que o autor termina a sua apresentação, afirmando que tanto ele como os seus três irmãos sonharam com o passado do pai, o que faz com que a guerra colonial seja também deles. E este é o motivo pelo qual Paulo Faria considera que é importante debater, analisar e contar a história de Portugal e dos portugueses, já que para o autor “quem não pensa sobre o passado, está condenado a repeti-lo”.  

Publicado em 03.12.2019