ENTREVISTA

Soumodip Sarkar sublinha a importância do projeto APPRAISE

Entrevista a Soumodip Sarkar, Professor do Departamento de Gestão a propósito do projeto APPRAISE - governAnce, quality, accountability: a Piloting Reform PRrocess in kurdistAn region of Iraq, coordenado pela União de Universidades do Mediterrâneo (UNIMED), que a UÉ integra desde 2017. O projeto visa reformar o Sistema de Ensino Superior da região do Curdistão, no Iraque. Liderado na Universidade de Évora (UÉ) por Soumodip Sarkar, do GAITEC, este projro tem por base as mudanças estruturais na gestão das instituições, na melhoria das capacidades dos recursos humanos e na implementação do processo de Bolonha. 

Como surgiu a ideia e que importância assume o projeto na UÉ?

A ideia surgiu por parte do consórcio, constituído por 14 identidades e liderado pela UNIMED com sede na Itália, com o objetivo de combater algumas lacunas que o Curdistão apresenta relativamente a procedimentos, à utilização de termos técnicos e ao conhecimento de processos, nomeadamente o Processo de Bolonha, que já esta a ser implementado na região. 

Quais os objetivos do projeto APPREISE?

O projeto APPRAISE conta com quarto principais objetivos: Aprimorar e aperfeiçoar a administração nas universidades, através do reforço da definição e desenvolvimento do roteiro das Instituições de Ensino Superior (IES); Melhorar as capacidades das IES relativamente aos mecanismos de garantia de qualidade: planejamento estratégico, práticas de gestão e financeiras; Apoiar a implementação do Processo de Bolonha nas IES da região do Curdistão, Iraque, ao transferir conhecimentos sobre a identificação de créditos e mobilidades educacionais; Adoção das reformas universitárias no processo de Bolonha em todas as EIS, através da definição e validação de planos de ação institucionais.

Quais as entidades envolvidas no projeto?

São ao todo 14 identidades envolvidas no projeto: UNIMED (União das Universidades do Mediterrâneo); Universidade de Pisa (Itália); Universidade de Oslo (Noruega), Universidade de Murcia (Espanha); Universidade de Évora (Portugal), Universidades de Salahaddin, Sulaimani, Halabja; Garmian, Zakho, Charmom, Duhok: Universidade e Politécnico (Iraque) e finalmente o Ministério de Ensino Superior e de Investigação Científica do Iraque.

Este é um projeto de cooperação que aborda a governança do Ensino Superior e planeamento estratégico na região do Curdistão do Iraque. Em concreto quais foram as razões a motivar o foco d projeto nesta região do globo? e quais as dificuldades que esta apresenta neste domínio? 

O Curdistão é uma região com bastante potencial. Para além de reunir várias universidades, os professores do Ensino Superior têm uma formação de louvar, tendo a maioria realizado os estudos no estrangeiro (por exemplo: na Inglaterra). Também na área de investigação, as universidades do Curdistão têm demonstrado um desenvolvimento bastante positivo e bons resultados. Contudo, como referido na primeira pergunta, esta região apresenta algumas lacunas na implementação de procedimentos internos e algumas carências a nível de conhecimento, nomeadamente sobre processos e boas práticas europeias. Como forma de contornar estes problemas/ Devido a estes problemas, o ministério do Curdistão sentiu a necessidade da transferência de conhecimentos de algumas universidades europeias para esta região.

Quais as mudanças estruturais necessárias a adotar na gestão das Instituições, seja ao nível dos Recursos Humanos, seja na implementação do processo de Bolonha?

O Processo de Bolonha não pode ser encarado como um processo uniforme (“One size fits all”) nas instituições. Cada universidade de Curdistão precisa de avaliar qual o melhor método de adaptação e implementação, tendo em conta as suas características e necessidades.  O Processo de Bolonha implica algumas mudanças necessárias, seja no plano de estudos, no método de ensino/aprendizagem, seja nos processos de ensino. Sempre que falamos de mudança, é natural haver por trás alguma resistência.  Contudo, as universidades europeias têm vindo a demonstrar, de forma geral, resultados bastante positivos na adaptação deste processo. Por isso, considero que o Processo de Bolonha é uma batalha ganha, e que tem sido bastante visível nas minhas visitas às universidades do Curdistão, que apresentam uma postura bastante aberta e interessada.

Que atividades estão previstas realizar no âmbito do projeto?

A Universidade de Évora tem especial importância nas atividades do WorkPackage2, ou seja, na criação de um roteiro de IES, identificando objetivos, missões e planos de trabalho. Para além disto, a organização de um workshop de consultadoria. Esta tarefa está a ser trabalhada e desenvolvida por colegas docentes e não docentes da Universidade. Destaco o papel importante da DIC3i, e dos Serviços Académicos da Universidade de Évora, da diretora Maria Alexandra Belo Ramos e em particular à coordenadora do Gabinete de Apoio aos Serviços, Dra. Dulce Caldeira.

E especificamente pela Universidade de Évora?

Como referido na pergunta anterior, as tarefas da Universidade de Évora neste projeto são a criação de um roteiro de IES, que identifica a visão, missões e planos de trabalho com o objetivo de ajudar as universidades do Curdistão e também a organização de um workshop de consultadoria. Para além disso, é necessário organizar uma visita à Universidade de Évora, por parte de reitores, docentes das Universidades do Iraque, com o objetivo de mostrar instalações e transferir conhecimentos que foi, entretanto, realizada.

Em que sentido é que a Universidade de Évora e em que áreas deverá a Universidade de Évora ajudar ao desenvolvimento do Ensino Superior na região do Curdistão, no Iraque?

Penso que estamos a ajudar em tudo. Para além da WP (Work Package), a Universidade também ficou responsável na realização de alguns módulos de MooCs, que já estão a ser preparados. O mais importante é a transferência de conhecimentos de ambas as partes. Neste contexto, foi realizada uma visita às instalações da Universidade de Évora há dois meses atrás, e do PACT, proporcionando a oportunidade de network com identidades diferentes da universidade e a partilha de informação. A nossa intenção, mesmo após o projeto ser dado como terminado, é continuar a relação entre a nossa Universidade e as do Curdistão.

No âmbito do projeto está prevista a atribuição de bolsas específicas para que os estudantes possam estar em Évora, e vice-versa?

Não, por enquanto não está previsto. Contudo há a hipótese de haver candidaturas não só para bolsas de estudo, mas também bolsas para investigadores.

Na qualidade de coordenador do projeto na UÉ o que mais destaca do projeto e o que o diferencia entre os demais?

Já fiz parte de alguns projetos Erasmus+ e todos eles têm pontos fortes e propósitos para colmatar problemas do nosso mundo que me fascinam. O que mais destaco neste projeto em específico é sem duvida a vontade e a intensidade em que as Universidades do Curdistão trabalham, demonstrando um verdadeiro espirito para aprender.

Publicado em 02.12.2022