Os Estudos Ibéricos a partir das margens: fricções peninsulares no século XXI

Os Estudos Ibéricos têm conhecido um desenvolvimento notável nas últimas décadas e um dos seus principais objetivos tem sido dar voz à diversidade cultural que coexiste, nem sempre sem conflitos, na Península Ibérica. No entanto, a revisão do corpus deste campo de estudo revela uma inércia centralista que “parece replicar-se no seio dos próprios Estudos Ibéricos”. Essa inércia persiste sob a forma de uma estrutura radial das relações literárias ibéricas que reaparece, às vezes de forma fantasmática, mesmo quando se tenta combatê-la. A demografia e o apoio estatal fazem com que as culturas portuguesa e espanhola acabem por assumir um protagonismo incontestável no contexto ibérico. Esta dinâmica tende a invisibilizar comunidades culturais minoritárias, dificulta a inteligibilidade de situações de conflito interliterário e confirma uma cartografia oficial organizada em torno de alguns poucos centros de poder.