Reconstrução e simulação do clima de Portugal a partir de fontes documentais e instrumentais do sec. XVII ao sec. XIX (Klimhist)

As alterações climáticas são hoje em dia uma das grandes preocupações da comunidade científica, da população e dos governos. As previsões para as próximas décadas e as decisões para mitigar e/ou adaptar as alterações climáticas devem basear-se no conhecimento do passado. Embora a variabilidade e as mudanças climáticas nos últimos dois (ou três) séculos possam ser deduzidas de séries instrumentais, há várias lacunas espaciais e temporais, especialmente na era pré-instrumental. Reconstruções de temperatura e precipitação na Europa [LUT2000], apontam para a necessidade de informação detalhada do sudoeste da Europa. Dada a situação de Portugal, entre o anticiclone dos Açores e a baixa pressão da Islândia e entre os climas de tipo Atlântico e Mediterrâneo, a reconstrução do clima em Portugal irá fornecer informações valiosas para avaliar o papel do forçamento antrópico na variabilidade climática.

A equipa interdisciplinar de climatólogos, geógrafos, historiadores e físicos pretende responder às perguntas: Como era a variabilidade natural do clima no passado? São os extremos mais frequentes hoje em dia? Quais foram as tendências climáticas nos últimos 350 anos em Portugal? Qual o papel do forçamento natural na variabilidade climática em Portugal? Alguns resultados promissores do projeto EU ADVICE permitiram reconstruir a variabilidade da temperatura e precipitação durante o LMM, expandir as séries de precipitação em Lisboa até 1835 e estudar alguns fenómenos meteorológicos extremos [ALC2000] [TAB2004]. No âmbito do projeto MILLENNIUM colaborámos na reconstrução climática [CAM 2010a, 2010b] e no estudo das grandes tempestades do século XVIII e dos seus impactos [PFI 2010]. Alguns membros da equipa colaboraram no projeto EU MICE a fim modelar os impactos de eventos climáticos extremos na Europa e avaliar cenários de climas futuros [SAN 2006] [2007]. Recentemente foram feitas análises de valores extremos e de tendências climáticas em Portugal [SAN 2009]. Estes projetos permitiram obter uma experiência importante na análise da variabilidade climática observada ou simulada por modelos.

É hoje reconhecida a variabilidade climática desde o início das observações meteorológicas regulares (últimas décadas do século XIX em Portugal). Contudo, as alterações climáticas anteriores a 1900 não são bem conhecidas. Este projeto irá concentrar-se em fontes documentais e em dados instrumentais desde 1645 (início do Mínimo de Maunder) até 1900 (início do projeto DISASTER, ver revisão de literatura). Serão adaptados os métodos de Pfister [BRA2005, 2010]. A equipa está a par da existência de várias fontes deste tipo, algumas parcialmente exploradas, ainda não utilizadas em estudos de alterações climáticas. OS LIMITES TEMPORAL E ESPACIAL EXACTOS DAS SÉRIES RECONSTRUÍDAS, DEPENDERÁ DA DISPONIBILIDADE DE DADOS CLIMÁTICOS E DA QUALIDADE DAS FONTES PESQUISADAS. A estratégia será diferente no Norte e Sul de Portugal, dado que há mais dados sobre o Sul do país onde a calibração e verificação da série poderão vir a ser mais desenvolvidas.