Cátedra Estudos Ibéricos

Fotografia de Antonio Sáez Delgado
Responsável

A Cátedra de Estudos Ibéricos da Universidade de Évora nasce com o objetivo de desenvolver o conhecimento científico sobre as relações entre as diferentes culturas da península ibérica. 

Sendo a única cátedra com estas caraterísticas no espaço peninsular, conta com uma componente de investigação e com outra de promoção e divulgação do conhecimento, através da organização de congressos, colóquios, jornadas, equipas de investigação, publicações, entre outros. 

Sedeada na Universidade de Évora, a Cátedra de Estudos Ibéricos nasce com uma forte vocação de trabalho em rede, criando as bases para a representatividade de todos os âmbitos linguísticos e culturais da península.

A Cátedra conta com o apoio económico da Junta de Extremadura, do El Corte Inglês e da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região Alentejo.

Membros

Vanda Maria Marques Rebelo (Chefe de Divisão) [Secretariado]

Carlos Paulo Martínez Pereiro (Professor Catedrático – U. A Coruña)
Carlos António Alves dos Reis (Professor Catedrático Jubilado – U. Coimbra)
Cristina Almeida Ribeiro (Professora Catedrática – U. Lisboa)
Jon Kortazar Uriarte (Professor Catedrático – U. País Vasco)
José Luis Bernal Salgado (Professor Catedrático – U. Extremadura)
Maria de Lurdes Correia Fernandes (Professora Catedrática – U. Porto)
Pedro Ferré da Ponte (Professor Catedrático – U. Algarve)
Perfecto E. Cuadrado (Professor Catedrático Emérito – U. Islas Baleares)
Víctor Martínez-Gil (Professor Catedrático – U. Autònoma de Barcelona)

Ações de Investigação

 

Os Estudos Ibéricos têm conhecido um desenvolvimento notável nas últimas décadas e um dos seus principais objetivos tem sido dar voz à diversidade cultural que coexiste, nem sempre sem conflitos, na Península Ibérica. No entanto, a revisão do corpus deste campo de estudo realizada por Esther Gimeno Ugalde e Santiago Pérez Isasi (“Lo ‘ibérico’ en los Estudios Ibéricos: meta-análisis del campo a través de sus publicaciones (2000-)”, 2019) revela uma inércia centralista que “parece replicar-se no seio dos próprios Estudos Ibéricos”. Um estudo mais recente de Pérez Isasi, “Luces y sombras en los Estudios Ibéricos. Un estado de la cuestión diez años después” (2021), confirma que essa inércia persiste sob a forma de uma “estrutura radial das relações literárias ibéricas [que] reaparece, assim, de forma fantasmática, mesmo quando se tenta combatê-la”. A demografia e o apoio estatal fazem com que as culturas portuguesa e espanhola acabem por assumir um protagonismo incontestável. Esta dinâmica tende a invisibilizar comunidades culturais minoritárias, dificulta a inteligibilidade de situações de conflito interliterário e confirma uma cartografia oficial “organizada em torno de alguns poucos centros de poder capazes de conferir visibilidade e valor de intercambialidade”, como argumenta Àlex Matas em “Cartografía ibérica y literatura comparada en La pell de la frontera de Francesc Serés” (2017).
Atendendo a esta realidade, tem-se assistido, no seio dos Estudos Ibéricos, em algumas ocasiões, à reivindicação de uma perspetiva multicultural e plurilinguística, como a proposta por Enric Bou em Invention of Space (2012), assim como de uma relação não hierárquica entre os seus componentes, como defendia já Joan Ramon Resina em “Hispanism and its Discontents”, em 1996. Estas reivindicações revelam-se pertinentes e necessárias nestas primeiras décadas de um século XXI marcado por fenómenos voláteis, incertos, complexos e ambíguos.
Neste horizonte, a presente ação de investigação pretende lançar luz sobre algumas questões pouco abordadas pelos Estudos Ibéricos, com o objetivo de respeitar a complexidade implícita ao território peninsular. Uma dessas questões diz respeito à delimitação geográfica do objeto de estudo, que motiva um estatuto ambíguo de territórios frequentemente excluídos, mas por vezes também reivindicados como tarefas por cumprir: Baleares, Canárias, Madeira, Açores, Gibraltar, Ceuta, Melilla, o Rossilhão francês, Iparralde, a expansão colonial ou os enclaves do exílio e da emigração. Outra questão prende-se com a visibilidade de comunidades minoritárias em situação de precariedade institucional, como as culturas occitana, aragonesa, asturiana, afrodescendente ou cigana.
Tudo isto contribui para contestar a identificação entre território, língua, literatura e unidade administrativa, que reduz a diversidade ibérica a blocos descritos a partir do poder institucional. Em suma, esta ação de investigação procura abordar uma série de problemáticas específicas do iberismo habitualmente negligenciadas e desautomatizar as abordagens críticas estabelecidas, oferecendo, assim, novas perspetivas que emergem quando se revê a agenda dos Estudos Ibéricos a partir das margens.

Eixos temáticos
1.(Pen)insularidades
A dimensão ibérica dos territórios insulares politicamente dependentes dos Estados peninsulares é problemática, pois essa dependência tem sido intermitente e o seu vínculo geográfico é bastante desigual, tanto pela distância quanto pela sua filiação continental. No entanto, as ilhas revelam-se fundamentais para a noção de ibericidade, na medida em que obrigam a repensar a sua territorialidade tanto política como geograficamente. Apesar do seu presumido isolamento, têm sido espaços de conexão, seja durante a expansão colonial, seja atualmente como nós da rede do turismo global.

2.(A)fronteiras
Os Estudos Ibéricos tendem a fazer coincidir o limite do seu objeto de estudo com a fronteira política entre Espanha e França. No entanto, do ponto de vista geográfico, o istmo situa-se 100 km mais a norte. Esta correção permite não só incorporar o Rossilhão e o País Basco francês, como também ampliar o elenco de culturas ibéricas integrando a francesa e a occitana. Conceber a fronteira política não como linha divisória, mas como articulação entre territórios e culturas — aquilo que Òscar Jané denomina por afronteira — permite rever outros espaços como a Raia extremenha ou a Franja de Ponent.

3.Literatura peninsular deslocada: exílios e emigrações.
A história colonial das monarquias peninsulares e da burguesia catalã, aliada à relevância das migrações e do exílio para a continuidade e desenvolvimento das culturas catalã, galega e basca, torna pertinente um exercício de deslocalização do ibérico, como o que Saramago propôs com a sua noção de “transiberismo”. Esta perspetiva contribui para desidentificar as relações entre território, língua, cultura e instituição, permitindo integrar os desenvolvimentos das culturas periféricas durante o exílio como parte da história do iberismo. Simultaneamente, abre caminho a abordagens pós-coloniais da análise das metrópoles.

4.Afrodescendentes ibéricos.
Os processos de seleção que moldam as histórias literárias nacionais tendem a excluir fenómenos, acontecimentos, obras e figuras que não se ajustam aos critérios identitários estabelecidos. Estes critérios não se limitam tradicionalmente ao aspeto linguístico ou ideológico, abrangendo também questões de género e etnia. Uma revisão da história cultural peninsular permite visibilizar minorias marginalizadas que, no entanto, desempenharam um papel essencial no desenvolvimento da cultura popular. Entre estas, destaca-se a comunidade descendente da África subsaariana, cujo impacto, evidente em Portugal, também pode ser rastreado em Espanha desde o século XVII. Este coletivo participou, por exemplo, na repovoação das Caraíbas — como os andaluzes "negros curros" — e, mais recentemente, inclui exilados da Guiné Equatorial, muitos dos quais músicos e escritores de expressão espanhola.

Coordenadores : Bernat Padró Nieto (Universitat de Barcelona) e Jesús Revelles Esquirol (Universitat de les Illes Balears)

Investigadores :
• Àlex Matas Pons (Universitat de Barcelona)
• Ana Cristina Correia (Universidade dos Açores)
• Ana Garrido (University of Warsaw)
• Ana Isabel Moniz (Universidade da Madeira)
• Cel Muñoz (Universidad Nacional de Educación a Distancia)
• César Rina (Universidad Nacional de Educación a Distancia)
• Jordi Cerdà (Universitat Autònoma de Barcelona)
• Larisa Pérez Flores (Universidad de Las Palmas de Gran Canaria)
• María Jesús Fernández (Universidad de Extremadura)
• Mercè Picornell (Universitat de les Illes Balears)
• Miguel Filipe Mochila (Universidad de Puerto Rico)
• Òscar Jané (Universitat Autònoma de Barcelona)

Em 1884, o positivista português Teófilo Braga publicou um ensaio sobre a importância que as celebrações de centenários literários haviam adquirido na configuração das identidades políticas modernas. Escritores, obras consagradas no cânone nacional e movimentos literários formavam “sínteses afetivas” do ser nacional, que se expressavam no ritual cívico das comemorações. Estas, ao mesmo tempo, eram expressão das transformações contemporâneas que colocavam o foco na consagração da arte e da ciência como vetores de progresso e identificação das comunidades políticas. Esta teorização seguia uma série de ciclos comemorativos que se estenderam por toda a Europa e que usavam a literatura como fonte ou pretexto para celebrar o grupo nacional ou certas culturas políticas. Como destacou Joep Leerssen, a literatura oferecia um quadro cultural para a representação e divulgação dos caracteres nacionais. Estes autores e autoras, conceituados por Marijan Dovic e Jón Karl Helgason como “santos culturais”, assim como a articulação de uma narrativa que dividia as criações nacionais em períodos de esplendor e decadência, foram parte fundamental dos processos de nacionalização. Estes não apenas dependiam da ação nacionalizadora do Estado, mas também envolviam múltiplos agentes sociais, entre os quais se destacavam os relacionados com o mundo das letras. A importância desses focos literários residia no fato de que os autores celebrados representavam, na chave de Herder, o espírito nacional que emanava de suas obras. Contar com nomes na literatura universal também servia, no âmbito do nacionalismo, para demonstrar de forma inequívoca a existência do ser nacional. Mas os usos das memórias literárias, se quisessem gerar essa “síntese afetiva” entre a comunidade nacional, não podiam se limitar a tratados literários e discussões na imprensa. Era necessário expressar no espaço público e sob a forma de liturgias cívicas - herdeiras da pompa e encenação ritual religiosa - a continuidade dos valores nacionais que eles representavam. Estas comemorações, bem articuladas pelo Estado, por associações literárias ou grupos sociais, pretendiam gerar um horizonte cognitivo extensível ao coletivo, no qual fosse apresentada de forma encenada uma versão oficial do passado e da história literária nacional. Além da importância nos processos de nacionalização, a seleção do cânone nacional e de seus autores e autoras mais destacados representava ao mesmo tempo uma decisão política e um posicionamento historicista perante determinados debates que ocorriam no horizonte das culturas políticas. Assim, a própria escolha dos personagens comemorados se enquadra nas lutas culturais para definir os traços ideológicos distintivos da comunidade: mais ou menos religiosa, mais ou menos liberal, etc. Da mesma forma, os centenários vinham acompanhados de uma intensa ressignificação historicista de literatos e obras: reedições, monografias ou concursos literários nos quais se aproveitava a efeméride para politizar os personagens de forma anacrônica e identificá-los com determinados projetos políticos. Podemos até dizer que cada centenário gerou seu contra-centenário, lutando politicamente para destacar determinados nomes, períodos históricos ou gerações literárias. Não há dúvida de que a memória literária desempenhou um papel determinante na configuração das identidades e das culturas políticas contemporâneas, conforme constatado nas últimas décadas no campo dos estudos literários e culturais.

 

Temas

  I. O poder da literatura - e suas comemorações - nas identidades e na política

II. Os centenários e a ritualização da literatura

III. Autores e gerações e seus usos políticos

IV. A literatura no espaço público: hegemonia cultural e legitimidade política

 

Coordenadores

Antonio Sáez Delgado (U. Évora)

César Rina (UNED)

 

Equipa de investigadores

César Rina (UNED)

Santi Pérez Isasi (U. Lisboa) (historiografía)

Bernat Padró (U. Barcelona)

Mercedes Comellas (U. Sevilla)

Xaquín Núñez (Universidade do Minho)

Jesús Revelles (U. Islas Baleares)

Guadalupe Nieto (U. Extremadura)

Jordi Cerdà (U. Autònoma de Barcelona)

Mónica Burguera (UNED)

Jon Kortazar (U. País Vasco)

Maria Zozaya (U. Évora)

Iolanda Ogando (U. Extremadura)

A ação pretende analisar a tradução de poesia entre os diversos sistemas literários ibéricos ao longo do século XX, assumindo-a como índice cultural particularmente significativo, por permitir, adotando uma perspetiva transnacional, observar aspetos, autores, textos e dinâmicas que os cânones nacionais habitualmente omitem.

É o caso, desde logo, da própria tradução como prática secundarizada pelas histórias nacionais. Uma análise das traduções existentes é já de si um modo de dar a ver autorias e perspetivas pouco estudadas, assim como o escrutínio das traduções inexistentes dará relevo às condicionantes históricas e/ou ideológicas de um dado momento. Com efeito, como reescrita e manipulação discursiva, a tradução é um território particularmente fértil para indagar as ideologias dominantes, quer atendendo à seleção dos textos e autores traduzidos, indicadores dos poderes e representações em voga, sejam eles políticos, institucionais, de mercado, de raça, de género ou de classe; quer atendendo à criação e fortalecimento de redes alternativas aos ditos poderes, que encontram na tradução uma importante estratégia de fortalecimento e visibilidade; quer analisando ainda as próprias opções e estratégias de tradução a esta luz.

Particularmente significativa, neste marco, é a tradução de poesia, a qual, tendo modernamente reclamado a sua condição marginal aos ditames socioeconómicos dominantes como ângulo de crítica, não deixa de conservar certo capital simbólico, um prestígio ou uma aura que a fazem, por outro lado, permeável aos referidos poderes e condicionantes ideológicas.

Pretendemos, pois, abordar e analisar as traduções de poesia existentes entre as várias línguas peninsulares, identificando quem traduz, o que se traduz, porque se traduz e como se traduz.

São objetivos para este ano a realização de uma Jornada Internacional em setembro, com a participação de membros da equipa de investigação, bem como a preparação da edição de um volume com ensaios críticos sobre esta matéria, a publicar em 2024.

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Coordenador

Miguel Filipe Mochila (U. Porto Rico)

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Equipa de investigadores

Ângela Fernandes (U. Lisboa, Portugal)

Antonio Rivero Machina (U. Extremadura, Espanha)

Esther Gimeno Ugalde (U. Viena, Áustria)

Guadalupe Nieto (U. Extremadura, Espanha)

Isaac Lourido (U. Corunha, Espanha)

Jesús Revelles Esquirol (U. Ilhas Baleares, Espanha)

Miguel Filipe Mochila (U. Porto Rico)

Rebeca Hernández (U. Salamanca, Espanha)

Robert Newcomb (U. Califórnia-Davis, EUA)

Santiago Pérez Isasi (U. Lisboa, Portugal)

A ação pretende investigar as relações estabelecidas entre alguns dos grandes protagonistas da filologia peninsular ibérica, durante um período que se reconhece por ter sido de grande desenvolvimento do campo (entre a segunda metade do século XIX e meados de XX). Parte da premissa de que a correspondência trocada entre figuras maiores que assumiram, inclusivamente, papéis institucionais cimeiros no panorama cultural português e espanhol, permitirá iluminar e desvendar redes de cooperação internacional profícua, quer de caráter pessoal, como profissional, e ainda misto, que importa conhecer e discutir pela importância que tem assumido. É objetivo para 2021 a preparação da edição anotada da correspondência trocada entre Ramón Menéndez Pidal e Carolina Michaëlis de Vasconcelos.

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Equipa de investigadores

Sandra Boto – FCSH/NOVA/IELT (Coordenação)

Pedro Ferré – UAlg / CIAC / Fundación Ramón Menéndez Pidal

António Apolinário Lourenço – Universidade de Coimbra / CLP

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Entidades colaboradoras

Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra

Fundación Ramón Menéndez Pidal

A ação pretende pesquisar a presença da literatura portuguesa nas revistas literárias peninsulares durante o século XX, com o objetivo de analisar o grau de permeabilização e receção que as diferentes literaturas ibéricas (castelhana, catalã, galega e basca) realizaram das letras portuguesas. Com essa finalidade, será escolhido um corpus de revistas, que será alvo de pesquisa e análise por parte da equipa de investigação. São objetivos para este ano a realização de um Colóquio Internacional com a presença de membros da equipa de investigação, por um lado, bem como a preparação da edição de um volume com índices e ensaios críticos relativos às revistas da primeira metade do século XX, por outro.

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Coordenador

Antonio Sáez Delgado

 

Equipa de investigadores

-Âmbito basco:

Jon Kortazar (U. País Vasco)

Asier Barandiaran (U. País Vasco)

Aiora Sampedro (U. Salamanca)

 

Âmbito castelhano:

Antonio Sáez Delgado (U. Évora)

Miguel Mochila (U. Évora)

Antonio Rivero Machina (U. Extremadura)

Guadalupe Nieto (U. Extremadura)

Almerinda Pereira (U. Évora)

Adriana Martins Frias (U. Évora)

César Rina (U. Extremadura)

Filipa Soares (U. Autónoma de Madrid)

Maria de Lourdes Pereira (U. Islas Baleares)

María Jesús Fernández (U. Extremadura)

Luísa Leal (U. Extremadura)

 

-Âmbito catalão:

Jordi Cerdà (U. Autònoma Barcelona)

Víctor Martínez-Gil (U. Autònoma Barcelona)

Jesús Revelles Esquirol (U. Islas Baleares)

Bernat Padró (U. Barcelona)

 

Âmbito galego:

Xaquin Núñez Sabarís (U. Minho)

María López Sánchez (U. Santiago de Compostela)

Rosario Mascato (U. Coruña)

Montse Pena (U. Santiago de Compostela)

 

 

Publicações

Principais Atividades

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