Silvério Rocha e Cunha homenageado na sua Última Lição Pública
No passado dia 20 de junho decorreu, no anfiteatro do Colégio do Espírito Santo, a última lição do Professor Silvério Rocha e Cunha, figura incontornável do Departamento de Economia da Universidade de Évora e investigador de longa data do Centro de Investigação em Ciência Política (CICP). Ligado à instituição desde 1981, Silvério Rocha e Cunha encerra oficialmente um ciclo notável de mais de quatro décadas dedicadas ao ensino, à investigação e à construção de pensamento crítico.
A sessão solene contou com a presença da Reitora da Universidade de Évora, Hermínia Vasconcelos Vilar, que sublinhou o momento como um "ritual que marca o final de uma fase de dedicação ao ensino e à investigação, que estou certa irá continuar". Destacou ainda o "reconhecido mérito" de um professor com quem "sempre aprendemos", alguém que "demonstra capacidades de surpreender pelo conhecimento que tem" e que, pela sua forma de pensar e comunicar, "nos desafia a conhecer mais profundamente".
Sandra Fernandes, diretora do CICP, fez questão de evidenciar o papel de Silvério Rocha e Cunha na edificação do Centro de Investigação tal como hoje se apresenta: "Foi decisivo na construção de uma unidade ancorada num pensamento livre e dialogante. É um exímio contador de histórias e um arquiteto institucional da coesão". Para Sandra Fernandes, o legado do professor ultrapassa as paredes da academia, deixando marcas visíveis na sociedade, na Universidade e no pensamento político e económico contemporâneo.
Já a diretora do Departamento de Economia, Conceição Rego, recordou a ligação profunda de Silvério Rocha e Cunha ao ensino das Relações Internacionais e o seu papel estruturante na identidade do departamento: “É uma das memórias vivas da segunda fase da Universidade de Évora. A sua vida reflete um compromisso permanente com a Universidade, com os estudantes e com a produção de conhecimento”.
Leonor Rocha, Diretora da Escola de Ciências Sociais (ECS), realçou o impacto pessoal de Silvério Rocha e Cunha junto de colegas e estudantes: "Ajuda-nos a ser melhores pessoas; a sua ponderação e humildade são traços de uma personalidade intelectualmente imparcial e coerente". Nas redes sociais multiplicam-se, desde há dias, as mensagens de gratidão, respeito e admiração pelo professor, acrescentou a Diretora da ECS, para enfatizar este sentimento em torno do Professor.
Num registo simultaneamente filosófico e poético, Silvério Rocha e Cunha encerrou a sua última lição refletindo sobre o papel da Universidade: “Provavelmente nunca saberemos o que é o mundo. E essa é a função da Universidade: interrogar-se sobre a complexidade do mundo”. Evocando o poeta Carlos Drummond de Andrade, defendeu que "o ser humano tem soluções", e que "a racionalidade acabará por se impor".
A sua derradeira intervenção terminou com a declamação de excertos do poema História Natural, de Drummond, num gesto simbólico que reforçou a sua visão humanista e contemplativa da existência:
“Cobras cegas são notívagas.
O orangotango é profundamente solitário.
Macacos também preferem o isolamento.
Certas árvores só frutificam de 25 em 25 anos.
Andorinhas copulam no voo.”
Hoje, mais do que uma despedida, viveu-se um momento de celebração intelectual e humana. Um tributo a um dos grandes nomes da Universidade de Évora — cuja lição, tal como a sua presença, continuará a ecoar na construção crítica do pensamento e na curiosidade infindável sobre o mundo.
Declarações do Professor Silvério Rocha e Cunha