2023

Projeto Avançado III

Nome: Projeto Avançado III
Cód.: ARQ02552I
12 ECTS
Duração: 15 semanas/312 horas
Área Científica: Arquitectura

Língua(s) de lecionação: Português, Inglês
Língua(s) de apoio tutorial: Português, Inglês
Regime de Frequência: Presencial

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

Objetivos de Aprendizagem

Esta unidade curricular convoca e sintetiza as abordagens e temas explorados nas anteriores unidades
curriculares de Projecto, reflectindo o carácter de síntese desta unidade curricular e consolidando a
possibilidade de entendimento do projecto enquanto processo de conhecimento e investigação. Estimula-se o
dialogo com os diversos intervenientes, introduzindo o tema da integração dos projectos especiais. O
exercício será organizado de acordo com um programa complexo.
Objectivos:
1. Consolidar a questão da investigação avançada em arquitectura
2. Dominar programas complexos
3. Consolidar a capacidade de observação crítica e de análise construtiva
4. Introduzir as questões relacionadas com a integração e coordenação das diferentes áreas de saber num
todo coerente
5. Consolidar e operacionalizar a consciência das questões da física da construção
6. Desenvolver a capacidade de reflexão teórica sobre o projecto e de comunicação

Conteúdos Programáticos

ALQUEVA - A paisagem como programa


MARCAS E REGISTOS DO TERRITÓRIO - UM SISTEMA EM REDE


UNIDADE E TERRITÓRIO - O MONTE NO ALENTEJO


ARQUITECTURA - PENSAR O COLECTIVO


 


ALQUEVA


a paisagem como programa


O território do Alqueva enuncia hoje a noção clara de um antes e de um depois.Esta separação temporal, leva-nos a reflectir em paralelo no valor e importância deste território como reflexo de um processo secular de ocupação do vale do Guadiana e nos desafios e imaginários veiculados pela nova paisagem do grande lago. O rio deixa-nos a memória da sua sonoridade e movimentos descendentes, os mesmos que há 5000 anos atraíram dinâmicas de ocupação e marcação do território e que há 2000 anos estimularam o início de um longo processo de sedentarização. O lago como objecto e sujeito de transformação, apresenta-nos uma nova forma de olhar e de habitar este território.


Passada uma década desde o início do enchimento da barragem, ainda que no início de um longo processo de consolidação, que reflexão podemos e devemos acrescentar a este território em transformação?


 


do Património Rural às Paisagens Culturais 1


Hoje o património rural já não se constitui nem se valoriza apenas pela sua dimensão agrícola e produtiva, mas também a partir de uma ideia de património e de paisagem cultural, criando novas possibilidades de reequilibrar as relações entre os núcleos urbanos e os territórios diversificadamente povoados que os circundam. A conservação e protecção da natureza e dos patrimónios históricos, a manutenção dos sistemas ecológicos e a ideia de um desenvolvimento sustentável ao nível territorial e local, passaram a ser estratégias que vêm dar um novo sentido ao ordenamento do território, bem como gerar novas metodologias de gestão dos recursos. Intervir nestes contextos passa por compreender a natureza sistémica do território e pensar a paisagem como programa.


Como incorporar estas novas dinâmicas num pensamento que abranja a grande e a pequena escala de intervenção?


 


unidade e território - o monte no alentejo


O monte no alentejo representa uma forma singular de ocupação do território. Constitui uma unidade de território associada à produção de um vasto tecido agrícola. O monte é hoje símbolo de um tempo onde se mantinham relações de equilíbrio funcional, social e cultural entre as características naturais do território e as actividades humanas que aí se desenvolviam. As transformações radicais ocorridas nos processos e sistemas instrumentais da agricultura, ao longo dos últimos 50 anos, levou à inoperatividade e abandono de muitos dos montes do alentejo. A proximidade com o lago a que muitas destas unidades ficaram sujeitas, veio também acentuar a sua disfuncionalidade com o território, como memórias deslocadas. Para muitas destas estruturas, o turismo, no seu modelo mais elementar, passou a ser uma das poucas alternativas de regeneração. Importa hoje sublinhar a importância do legado do monte, numa revisitação à sua complexidade programática de carácter evolutivo. Como reinventar outros usos para a sua matriz tipológica, em adequação a novas exigências económicas, sociais e culturais, e em relação com a nova paisagem?


 


marcas e registos do território - um sistema em rede


Numa leitura mais cirúrgica identificamos uma vasta rede de marcas e registos impressos no território, que contribuem para a construção de um conhecimento mais concreto sobre os processos de ocupação e acção do homem sobre o território. Os múltiplos sítios arqueológicos, as práticas e rituais impressos no quotidiano dos habitantes, as ligações ao campo e às suas actividades, desenham um complexo sistema em rede que constitui a paisagem e que podemos a qualquer momento convocar. 


No livro “Walkscapes - el andar como pratica estética”, Francesco Careri identifica o acto de caminhar, como um acto criativo, gerando um sistema de relações na justaposição de espaço e de tempo.A experiência deste território pressupõe naturalmente a disponibilidade para o percorrer e para reconhecer na sua complexa estrutura um denso património cultural.


Que vínculo podemos hoje estabelecer entre o passado e o presente, que nos oriente para uma forma mais sustentável de continuar a habitar e a construir estas paisagens?


 


pensar o colectivo


A arquitectura implica a assunção de uma ideia de colectivo, de interacção social e cultural entre as pessoas e os espaços que determinam as suas acções. A evidência desta relação torna o exercício do arquitecto como uma experiência antropológica. A noção de que a organização do espaço determina comportamentos e contribui para a qualidade das relações humanas, é um dos mais significativos e enigmáticos motores de construção do habitar, pelo seu sentido de imprevisibilidade e pela diversidade de factores que convergem na criação dos lugares. Trazer este tema para o centro do nosso trabalho, significa pensar a arquitectura como um dispositivo complexo capaz de reinventar e de reactivar, num determinado tempo e local, novas relações para o habitar colectivo. 


Como podemos, hoje, repensar esta dimensão à luz de novos programas?


 


Estas questões e tópicos de aproximação a uma leitura do território, são indicadores de uma dimensão reflexiva que importa aprofundar. A investigação sobre o programa dado, associado a uma situação específica de intervenção, colocará em evidência uma diversidade de temas e significados, levando cada aluno a posicionar-se sobre um conjunto de temáticas e a sedimentar um pensamento actual que estruture o acto de projectar.


O projecto a desenvolver em Projecto Avançado III, tem como objectivo a leitura e interpretação de um território em processo de transformação, no sentido de desenvolver um projecto de arquitectura de uma unidade produtiva, de carácter colectivo, em todas as suas fases, desde as fundamentações conceptuais às questões de detalhe. 


 


Objectivos


Desenvolver um projecto de reordenamento com capacidade de transformar positivamente o sistema artificial de ocupação, tirando partido do sistema natural. Fomentar o aprofundamento do trabalho com as várias escalas e estratégias conceptuais de relação com os sistemas, em estreita relação com o universo próximo do lago do Alqueva.


Pretende-se investigar o conceito de programa e ensaiar a partir da identificação de estruturas pré.existentes/Montes em desuso ou desactivadas uma sequência de relações de escala de ocupação do território: Núcleos Urbanos - Pequenos aglomerados - Montes.



 


Programa


Unidade produtiva:


Núcleo(s) laboratorial/observatório associado à investigação agrícola/ mineral.


Unidade de habitação temporária e permanente: redidências para investigadores/artistas/estudantes.


Apoio para caminhantes. Estabelecer percursos pedestres relacionados com a rede em curso. 


Deve conter produção agrícola e/ou animal.


Sistema de captação de água.


Travessias e ancoradouros activando o sistema circuitos fluviais


 


Descrição do programa:


Estadia.


permanente 3/4 pessoas. investigadores/artistas


camaratas/temporário. máximo 10 pessoas. caminhantes. cozinha.


Núcleo de apoio ao visitante.


sala de recepção/ informação com rotas e percursos - terra/água


Núcleo de investigação.


laboratório de trabalho


arquivo/biblioteca/exposição


laboratório/sala técnica


Unidade de produção agricola


preservação e manutenção do território e da paisagem.


espaço de cultivo. 


Espaço de observação e relação visual com o território.


ancoradouro/travessia/barco


reservatório/cisterna-água/abastecimento + tanque.


sistema de abastecimento de energia electrica.


lixo/reciclagem/sistema tratamento.


Nota: Qualquer um dos núcleos do programa deverá ser desenvolvido de modo a gerar uma adequação ao tema geral de trabalho proposta por cada aluno e as característica do monte escolhido.


 

Metodologia


Trabalho colectivo. Trabalho prévio e preparatório de pesquisa e diagnóstico. Edição de livro de turma.


Trabalho individual. Projecto a partir de um lugar eleito.


Visitas aos lugares eleitos. Viagem de barco no Alqueva


 

Faseamento e Calendário


Fase 1 


Trabalhos de investigação e levantamento. 


Lugar: Contexto, Ambiente, Orografia, Histórica, Geologia, Arqueologia, Sistemas Naturais, Sistemas Artificiais e Espaço Público.  Fauna, Flora, Estrutura Cadastral, Cartografia e Mapas. Trabalho em grupo


Trabalho de investigação e apresentação de Casos de Estudo relacionados com os temas eleitos.


De 30 de outubro 2012 a 08 de Novembro 2012.


 


Fase 2


Programa


Fixação de um programa global a partir de um trabalho de investigação sobre o lugar eleito. 


Execução de livro com a documentação produzida sobre lugar de intervenção. 


Definição de Lugar e Programa. Visita aos locais de intervenção.


De 08 de Novembro 2012 a 20 de Novembro 2012.


 


Fase 3 


Lugar/ Programa


Densidade/ Rarefacção, Acessos/ Circulação, Estrutura/Tectónica, Permanência/ Reversibilidade


Entrega da Proposta com Programa de Intervenção à escala 1:1000 a 29 de Novembro 2012.


 


Fase 4 


Construção


Eleição de estratégias de construção para as diversas componentes do projecto.


Entrega da Proposta à escala 1:500 a 20 Dezembro 2012. 


 


Fase 5


Lugar/ Programa/ Construção


Entrega da Proposta à escala 1.1000, 1:500 1:200 e 1: 50 a 10 de Janeiro 2012 em sessão de avaliação intermédia com Jurí convidado.


 


Avaliação


Entregas parciais.


Entrega final: Portfolio com súmula do trabalho em formato A0, Caderno A3 e Maquetas, 22 Janeiro 2013.


Júri final (sujeito a confirmação) 24 e 25 Janeiro 2013


 


CASOS DE ESTUDO


Desenvolvimento paralelo de trabalho de investigação sobre alguns casos de estudo, a desenvolver em grupos de 2 alunos. 


Percursos Pedonais em torno da Acrópole, Atenas, Grécia, 1951-1957. Dimitris Pikionis


Casa Tara, Kashid, Maharashtra, Índia, 2005. Studio Mumbai


Intervenção de paisagem, Bjørgeøyan, Noruega, 2008. Rintala Eggertsson


Cromeleque do Xerez, Monsaraz, Portugal, 2005. Daniel Monteiro


The Chinati Foundation, Marfa, Texas, EUA, 1979-1986. Donald Judd


Las Arboledas, Cidade do México, México. 1958-1961. Luis Barragan


Roden Crater, Arizona, E.U.A. 1970-2011. James Turrel


Casa Van Middelem-Dupont, Oudenburg, Bélgica. 1997. Álvaro Siza


Capela Bruder klaus, Wachendorf, Eifel, Alemanha, 2007. Peter Zumthor


Projecto de recuperação da Cidade Velha, lha de Santiago, Cabo Verde. 2005-2011. Álvaro Siza


 

 

1Em: “Do Património Rural às Paisagens Culturais”, debate na TSF, a 23 de Agosto de 2010, entre Gonçalo Couceiro, Director do Igespar, o arquitecto José Aguiar, presidente do Ícomos de Portugal, o investigador Joaquim Pais de Brito, Director do Museu Nacional de Etnologia, e José Manuel Simões, professor catedrático e investigador do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa. 


http://www.tsf.pt/Programas/programa.aspx?content_id=918070&audio_id=1545986

Métodos de Ensino

As aulas serão dadas em regime de ensino prático e laboratorial, num total de 12 horas de contacto semanal, a
que se somam 6 horas de acompanhamento tutorial. Os conteúdos programáticos serão introduzidos pelo
docente através de aulas com apoio audiovisual, conferências, visitas de estudo e acompanhamento individual
ou em grupo dos trabalhos. Os exercícios serão desenvolvidos nas aulas, sob a orientação do professor. Será
fortemente estimulada a articulação com as unidades curriculares de Arquitectura e Tecnologia, com vista à
consciência e prática consolidada de estratégias de projecto integradoras de outros saberes.
A avaliação é regida apenas pelo sistema de avaliação contínua, resultando do acompanhamento dos
trabalhos ao longo do semestre, e será realizada com base na demonstração do domínio dos conteúdos
leccionados. Os alunos têm de assistir, obrigatoriamente, a 60% das aulas leccionadas, para poderem estar
sujeitos a aprovação na unidade curricular.

Bibliografia

BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA 


ALEXANDRE, Christopher - The Timeless way of building. New York: Oxford University Press, 1979.


CHOAY, Françoise - Urbanisme, Utopies et Réalités - Edit. Seuil, Paris, 1965.


CARERI, Francesco - Walkscapes, el andar como práctica estética - GG, Paperback 2002


CLEMENTE, Gilles - Le tires-paysaje. copyright ©, Gilles Clement, 2004


CULLEN, Gordon - Paisagem Urbana, Arquitectura e Urbanismo. Lisboa: Edições 70.


DEPLAZES, Andrea - Constructing Architecture, Materials, Processes, Structure. Birkhauser,Basel, 2005.


DOMINGUES, Álvaro - A vida no campo. Porto: Dafne Editora, 2012. 


HEIDEGGER, Martin – O conceito de Tempo. Lisboa: Ed. Fim de Século, 2003.


HERTZBERGER, Herman - Lições de Arquitectura. São apulo: Martins Fontes, 1999.


MERLEAU-PONTY, Maurice – Fenomenologia da Percepção. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 1999. 


RIBEIRO TELLES, Gonçalo; CALDEIRA CABRAL, Francisco - A árvore em Portugal. 2ª Ed, Assírio & Alvim, Lisboa, 1990.


RICOEUR, Paul - La Mémoire, l’Histoire et l’Oubli. Paris: Seuil, 1997


SILVANO, Filomena - Antropologia do espaço, Celta Editoa, Lisboa, 2007.


SOLÀ-MORALES, Ignasi de  - Território. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 2002.


ZIMMERMANN, Astrid - Constructing Landscape, Materials, Techniques, Structural Components. Basel: Ed. Birkhauser, 2008.


ZUMTHOR, Peter - Atmospheres – Birkhauser – Publishers for Architecture, Basel, Boston, Berlin, 2006.


ZUMTHOR, Peter - Pensar a Arquitectura. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 2005.


 


Bibliografia específica - Alqueva


ALARCÃO, Jorge de; CARVALHO, Pedro; GONÇALVES, Ana (coord.), Castelo da Lousa - intervenções Arqueológicas de 1997 a 2002 , Mérida: STVDIA LUSITANA, nº 5, 2010


BERROCAL-RANGEL, Luís Berrocal-Rangel, SILVA, António Carlos, O Castro dos Ratinhos (Barragem do Alqueva, Moura): escavações num povoado proto-histórico do Guadiana, 2004-2007 , Suplemento 6 de O Arqueólogo Português , Lisboa: Museu Nacional de Arqueologia, 2010


GIRALDO, Hipólito Collado, Arte rupestre en la cuenca del Guadiana: el conjunto de grabados de Molino de Manzanez , Colecção Memórias d’Odiana Estudos arqueológico do Alqueva, Beja: EDIA, 2006


LANÇA, Maria João (coord.), No tempo dos moinhos do Guadiana e outros tempos , Colecção Memórias d’Odiana: estudos arqueológicos do Alqueva, Beja: EDIA, 2004


SILVA, António Carlos Silva, (coord.), Das pedras do Xerez às novas terras da Luz , Colecção Memórias d’Odiana: estudos arqueológicos do Alqueva, Beja: EDIA, 2000


SILVA, António Carlos Silva, (coord.), Salvamento arqueológico do Guadiana , Colecção Memórias d’Odiana: estudos arqueológicos do Alqueva, Beja: EDIA, 1999


 


MUSEU DA LUZ nº1 - Arqueologia nas terras da Luz. Edições Museu da Luz, EDIA, Maio, 2004. (Reúne artigos de diversos autores, nomeadamente dos responsáveis das intervenções arqueológicas realizadas na Luz e Alqueva antes do enchimento da barragem (António Carlos Silva; António Valera; Ana Gonçalves e Pedro Carvalho; Valdemar Canhão; Conceição Lopes; Heloísa Santos, Paula Cosme e Paula Abranches). O livro trata do património histórico e arqueológico submerso deste concelho, com destaque para o monumento do Castelo da Lousa.)


MUSEU DA LUZ nº3  - Olhar os montes alentejanos a pretexto de Alqueva. Edições Museu da Luz, EDIA, 2007. (Trata o tema dos montes alentejanos em diversas perspectivas, confrontando passado e futuro. Conta com o contributo de diversos autores, nomeadamente: Benjamim Pereira, Victor Mestre, Filipe Themudo Barata, Pedro Pacheco, António Carlos Silva. Inclui um Glossário de termos.)


 


Nota: Será fornecida bibliografia complementar de apoio aos temas desencadeados por cada projecto.