2024

Cultura Portuguesa

Nome: Cultura Portuguesa
Cód.: LLT01642L
5 ECTS
Duração: 15 semanas/130 horas
Área Científica: Linguística

Língua(s) de lecionação: Português
Língua(s) de apoio tutorial: Português

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

Objetivos de Aprendizagem

Objectivos da diciplina: criar e enraizar no aluno uma noção sólida de cultura; perspetivar os principais tópicos da cultura portuguesa até 1580; interpretá-los de forma pessoal e criativa; prestar com isso apoio às unidades curriculares  da licenciatura (EB) na área da História, da Literatura e da Língua .

Conteúdos Programáticos

TEMA GERAL DO CURSO: MEMÓRIA E CONFLITO NA CRIAÇÃO E NO DESENVOLVIMENTO DA CULTURA PORTUGUESA 


A. PROBLEMAS


I. AS CLÁUSULAS ANTERIORES


1. A noção de cultura: etimologia, história, antropologia, natureza e religião. Cultura e Civilização.


2. Condicionantes naturais da cultura portuguesa: situação geográfica do território português; especificidade atlântica da faixa ocidental ibérica; contextualização e continuidade ibérica (clima, hidrografia e orografia). A questão das fronteiras naturais e das fronteiras culturais.


3. Condicionantes humanas da cultura portuguesa: o povoamento humano da Península Ibérica antes da formação histórica de Portugal; a metáfora geológica e os estratos étnico-culturais peninsulares. Estratificação e assimilação cultural. Da comunidade agro-pastoril, aldeã e castreja, à cidade urbana


3. Três grandes sínteses culturais anteriores à formação das nacionalidades ibéricas: celtiberos, hispano-romanos e califado de Córdova. O interregno suevo-visigótico: estrato ou exceção?


 


II. FORMAÇÃO DA CULTURA PORTUGUESA


1. O papel cultural dos cristãos (moçárabes) em território islâmico peninsular e a formação histórica de Portugal: o exemplo de Afonso VI e de Almutamid; a cultura (poético-linguística) galaico-portuguesa e o islão de Córdova; a Carja árabe e a Cantiga de Amigo; a cultura do Amor provençal na Europa e o platonismo árabe ibérico (Ibn Hasm). O proto-nascimento da Saudade como sentimento de tristeza moral: uma etimologia árabe para a palavra.


2. Afonso Henriques: cruzado ou moçárabe? A formação política de Portugal: Reconquista cristã ou experiência progressiva de tolerância e entendimento entre diferentes comunidades étnicas e religiosas? Ativismo militar ou atividade diplomático-religiosa? A cultura monástica e cisterciense (Tarouca e Alcobaça), a templária (Braga e Tomar) e a Sufi de Mértola e Silves.


3. A Batalha de S. Mamede e o trauma edipiano de Portugal. Psicanálise cultural do conflito entre Afonso Henriques e sua mãe D. Teresa. A separação de Portugal e da Galiza: um conflito edipiano mal resolvido na infância de Portugal? Marcas do conflito na cultura portuguesa inicial: S. Mamede e Ourique. A cultura portuguesa como cultura do conflito.


 


III. DE D. DINIS AO EPISÓDIO DE INÊS DE CASTRO


1. O amor cortês occitano-provençal e a história do amor-paixão de Tristão e Isolda. O problema do casamento e do adultério nas sociedades cultas da última Idade Média europeia. O significado político-cultural de D. Dinis e Isabel de Aragão: amor (cancioneiros), conhecimento (criação do ‘Estudo Geral’ de Lisboa), independência (Tratado de Alcanizes), direito (Livro de Leis) e espiritualidade livre (festas do Espírito Santo e franciscanismo heterodoxo).


2. Aspectos históricos do episódio português: casamentos de D. Pedro, política diplomática de Afonso IV, condenação à morte de Inês de Castro, vingança de D. Pedro, exumação de Inês de Castro e trasladação de Santa Clara de Coimbra para Alcobaça.


3. A exumação de Inês de Castro: do amor-paixão medieval à Saudade portuguesa; aspectos da arte funerária portuguesa. A questão do aparecimento efectivo da Saudade na cultura portuguesa: a soledade leonesa, a soedade-soidade galaico-portuguesa dos cancioneiros galaico-portugueseses e a suidade-saudade da prosa portuguesa do século XIV-XV (do Códice Alcobacence, Vida de Santo Amaro ao texto duartino). D. Pedro: o Rei-Saudade? Problemas filológicos e fonéticos da evolução das formas arcaicas da palavra saudade até à sua forma moderna e definitiva.


4. Prospecção da extensão e profundidade do mito saudoso de Inês de Castro no imaginário cultural português: Fernão Lopes, Garcia de Resende, António Ferreira e Luís de Camões. Aspectos iconográficos do mito: as arcas tumulares de Alcobaça, Columbano (“Súplica de Inês de Castro”) e Lima de Freitas (“Até ao Fim do Mundo” e “A que depois de Morta foi Rainha”).


 


IIII. O PORTUGAL ATLÂNTICO


1. As consequências culturais da crise político-social de 1383-85: Aljubarrota e o isolamento político português no quadro da Península Ibérica. A inevitabilidade de uma política marítima atlântica depois da crise de sucessão e das guerras com Castela. A identidade [marítima] portuguesa como factor cultural adjuvado pelas condições naturais. A expedição a Ceuta e a arrancada dos Descobrimentos: Madeira, Açores, costa da Guiné. A génese da colonização: comércio e aventura. Os descobrimentos atlânticos na Literatura portuguesa: Presença da Saudade e da Criação da Terra Desconhecida na Epanáfora Amorosa de óciosco Manuel de Melo.


2. Fisionomia cultural portuguesa do século XV: a obra moral e social de D. João I (Livro da Montaria), a obra filosófica de D. Duarte (Livro da Ensinança de Bem Cavalgar Toda a Sela e Leal Conselheiro) e a de D. Pedro (Livro da Virtuosa Benfeitoria); a biblioteca palatina de D. Duarte; a expansão náutico-marítima de D. Henrique, D. Pedro e seus continuadores (da Escola de Maiorca à questão da Escola de Sagres; o plano da Etiópia e da Índia); a pintura de Nuno Gonçalves (os seis painéis; realismo e sonho na sociedade portuguesa do século XV; homogeneidade social e composição religiosa diversificada); a historiografia de Avis (Fernão Lopes, Gomes Eanes de Zurara e Rui de Pina); o estilo manuelino na arquitectura (do mosteiro da Batalha à igreja de Jesus de Setúbal; moçarabismo e mudejarismo no manuelino português; universalismo e sincretismo étnico-cultural). Os equívocos medíocres da cultura do conflito em Portugal: Alfarrobeira e a morte do Infante D. Pedro. Dissídio, fatalidade trágica e quebra da homogeneidade das virtudes de Avis.


3. Os Descobrimentos portugueses: localismo peninsular, expansão atlântica e mundialismo (o comércio da Índia e do Oriente; a colonização do Brasil no século XVI); Gil Eanes, Jerónimo Corte-Real, Diogo Cão, Bartolomeu Dias (e a questão da nacionalidade de Cristovão Colombo), Nicolau Coelho, Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral e Fernão de Magalhães. Aspectos positivos [espírito de iniciativa, desenvolvimento técnico-científico, miscigenação (o modelo cultural de Afonso de Albuquerque)] e negativos [escravatura, intolerância religiosa (anti-semitismo) e arrogância mundial (o Tratado de Tordesilhas, 1494)] dos Descobrimentos.


 


V. A ESPANHA, O JUDAÍSMO E A INQUISIÇÃO


1. A pressão religiosa da Espanha em Portugal: política de casamentos da dinastia de Avis e alterações do estatuto do Judeu em Portugal (a conversão forçada ao cristianismo). Desaparecimento dos Judeus em Portugal e aparecimento de uma nova classe de cristãos: os cristãos-novos ou os novos conversos. O judaísmo clandestino ou criptojudaísmo. O cripto­ju­daísmo e o anti-semitismo português do século XVI: vigilância ideológica, censura moral-religiosa, delação. Questionação do anti-semitismo luso-es­panhol: aspectos culturais (atavismo visigodo ou cruzadismo europeu; valo­res e et­nias).


2. D. João III e a instalação do Tribunal da Inquisição em Portugal (1536): a pressão espanhola, as relações com Roma, os interesses da coroa. O anti-semitismo como moral e actividade político-económica. O Tribunal: sanção ideológica e organismo político-económico. O Tribunal da Inquisição e o cristão-novo: desconfiança, perseguição, prisão, tortura, espoliação, condenação à morte e penitência. A situação do cristão-novo português entre D. Manuel I e Pombal (1502-1762): opressão, tolerância, respeito, resistência e clandestinidade. A resposta do cristão-novo (do século XVI ao sec. XVIII): fuga, duplicidade, desterro (interno ou externo), messianismo e descrença. Judaísmo e Inquisição: os aspectos sangrentos da cultura do conflito em Portugal. O contributo sebastianista.


 


B. FIGURAS


I. D.DINIS


II. ISABEL DE ARAGÃO


III. D. PEDRO E D.ª INÊS DE CASTRO


IV. D. JOÃO I E O INFANTE D. HENRIQUE


V. GIL EANES; DIOGO CÃO; BARTOLOMEU DIAS; VASCO DA GAMA; FERNÃO DE MAGALHÃES

Métodos de Ensino

Métodos de ensino: recorrem-se a aulas expositivas, preparadas com antecedência pelo docente, para que o aluno possa beneficiar dum modelo de fluência verbal, indispensável numa licenciatura universitária e duma sistematização da matéria; fornecem-se aos alunos conjuntos de apontamentos escritos, com a matéria organizada e desenvolvida por escrito, de modo a que ele possa aprofundar os tópicos sistematizados na aula e ainda preparar pequenos trabalhos semanais, para exposição na aula, que serão um dos elementos a ter em conta no sistema da avaliação contínua ou mista.

Avaliação

Avaliação: pode ser contínua, com um ou dois trabalhos orais em data a combinar com os alunos, uma frequência realizada em aula, e um trabalho escrito sobre tema do programa, com idêntica percentagem. Em alternativa a esta avaliação o aluno pode escolher fazer apenas um exame escrito. No primeiro caso, avaliação contínua, o aluno (caso não seja Estudante Trabalhador e não esteja ao abrigo de regimes especiais) precisa de 75% de assiduidade às aulas; no segundo, avaliação através de exame, de 50% (caso não seja Estudante Trabalhador e não esteja ao abrigo de regimes especiais). A necessidade de assiduidade não se coloca em nenhum caso para o exame de recurso. Deixa-se em aberto a possibilidade da avaliação contínua contabilizar trabalhos regulares, escritos e orais, apresentados na aula. É possível ainda conceber, caso isso seja do interesse do aluno, um regime misto de avaliação, a combinar com o docente. Entre todos estes modelos privilegia-se a avaliação contínua, por ser a mais proveitosa para a aprendizagem do aluno (e o ensino do docente).


 

Bibliografia

Adorno, Theodor, Sobre a Industria da Cultura, Angelus Novus, 2003.
Antunes, Manuel, Teoria da cultura. Lisboa: Edições Colibri, 2002.
Cabral, Eunice, Roteiro da Literatura Contemporânea em Língua Portuguesa, Évora, Universidade de Évora, 2010.
Centeno, Yvette (org), Portugal: Mitos Revisitados, Lisboa, Salamandra, 1993.
Gil, José, Portugal, Hoje. O medo de existir, Lisboa, Relógio d'Agua, 2007.
Lourenço, Eduardo, O Labirinto da Saudade, Lisboa, Dom Quixote, 1982.
Real, Miguel, Introdução à cultura portuguesa, Lisboa, Planeta Editora, 2011.
Thiesse, Anne-Marie, A criação das Identidades Nacionais, Lisboa, Temas e Debates, 2000.

Livro para trabalhar textos em aula: Dacosta, Luisa, De Mãos Dadas Estrada Fora..., Porto, Asa,2002.

Equipa Docente (2023/2024 )