2023

Seminário I

Nome: Seminário I
Cód.: ARQ09900D
6 ECTS
Duração: 15 semanas/156 horas
Área Científica: Arquitectura

Língua(s) de lecionação: Português
Língua(s) de apoio tutorial: Português
Regime de Frequência: Presencial

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

Objetivos de Aprendizagem

Realizar uma discussão ampla e fundamentada de algumas premissas sobre a produção de arquitectura contemporânea. Pretende ser o ?grau zero? para o inicio de uma reflexão que possa contextualizar o trabalho de Tese a desenvolver.
Conhecimentos a adquirir a nível da criação de um mapa não apenas teórico e histórico mas com competências alargadas às variáveis económicas e de R&D nem sempre explícitas nas leituras críticas sobre arquitectura.
Conhecimentos a nível da escrita e apresentação de trabalhos fundamentados e justificados com rigor de escrita científica.
Competências a adquirir ao nível do reconhecimento que o campo epistemológico do arquitecto se transforma tendo por esse motivo implicações várias a nível da pratica da profissão e do respectivo modus operandi.
Competências de resposta a questões fundamentais enunciadas nos conteúdos programáticos e desse modo capazes de estabelecerem uma plataforma teórica e fundamentada para os trabalhos de investigação a desenvolver.

Conteúdos Programáticos

O objectivo de Seminário I, é apresentar um horizonte de reflexão em torno das possíveis interpretações dos territórios interiores, na tentativa de os resgatar a uma conotação e condição negativas.


Esta reflexão pretende constituir-se como lugar de debate capaz de alimentar a investigação, nas suas vertentes teórica e projectual, tal como é preconizada no programa de Doutoramento em Arquitectura da Universidade de Évora.


Neste sentido, a par do trabalho que será desenvolvido em Laboratório de Arquitectura I, Seminário I pretende desbravar, questionar as certezas que se procuram (e que servem) quando se pensa projecto, riscando linhas medidas e proporcionadas que enformam uma hipótese de espaço.


Fazendo uso de uma aproximação tão comum quanto rica que convoca para um mesmo espaço de reflexão diferentes disciplinas, procura-se perceber como diferentes campos disciplinares articulam e interpretam a questão da desertificação no âmbito específico em que actuam. O contributo, num regime de conferências, por figuras exemplares nos diferentes domínios, permitirá a constituição de uma base concreta de referência, capaz de se contrapor a abordagens mais teóricas, produzindo deste modo um equilíbrio estimulante que, em última instância, reconduzirá os caminhos, mesmo os mais contorcidos, à dimensão arquitectónica.


Os convidados que constituem parte do conteúdo do Seminário apresentam um conjunto de contributos que, naturalmente partindo das suas próprias produções e experiência, oferece uma especial atenção ao tema em questão, mostrando situações em que o desenvolvimento de trabalho tenha sido disciplinado pelo rigor que o confronto com uma situação extrema – quer do ponto de vista conceptual, quer do ponto de vista prático – determina. São consideradas abordagens integradas, procurando-se confrontar leituras “de cima para baixo”, que consideram o planeamento como instrumento de acção, com aproximações “de baixo para cima”, que se estruturam a partir de intervenções em projectos específicos, de proximidade, como são os inúmeros casos de empreendimento na chamada agricultura biológica.


Dos possíveis casos em que se pode considerar a reflexão proposta, toma-se como primeiro caso de estudo a imensa quantidade de aglomerados rurais e povoações que, no território português, se encontram em processo de desertificação. É dada uma particular atenção ao Interior alentejano, na medida em que se apresenta como espaço próximo e estudado, sobre o qual se tornam possíveis cenários e hipóteses de projecto.


Se, por um lado, se coleccionam casos exemplares, a partir dos quais podem fazer leituras, apreciando do sucesso ou insucesso de respostas concretas, por outro lado procura-se reflectir também sobre a noção de desertificação. Essa reflexão passa por desmontar a complexidade que o termo encerra, e indagar, de modo mais consistente, os aspectos associados que, nalguns casos, mitificados. Esta desmontagem pode contribuir para a tornar mais operativa a noção de desertificação. Alguns dos debates da actualidade, como por exemplo o instaurado com o aparecimento do slow movement, pode contribuir para a reflexão.


Naturalmente procura-se pensar o projecto como instrumento capaz de se alimentar destas referências, mas igualmente capaz de ultrapassar abordagens imediatas, de carácter mimético ou panfletista (Souto Moura fala de “fazer a casa antiga de uma maneira moderna”, a propósito da intervenção nas Sete Cidades). A integração de infrastruturas de carácter minimal, através de tecnologias sustentáveis, permitirá uma actualização – no sentido mais abrangente – de lugares como os que aqui se estudam.


 


Trabalhos 


Como é anteriormente indicado, pretende-se criar uma base de dados. Por um lado de textos e de projectos de referência - que ofereçam uma perspectiva sobre aspectos genéricos relacionados com a arquitectura, sempre numa óptica do território e da paisagem, e por outro sobre aspectos específicos, relacionados com o espaço do Alentejo.


O objectivo de Seminário I é produzir debate considerando o contributo dos oradores convidados, um debate em “tempo real”, e desse debate, constituir um outro, referido a um tempo mais lento, com a matéria que for sendo sedimentada pelos casos  de referência – livros; imagens; projectos.


 


Para a constituição da base de dados serão desenvolvidos três trabalhos:


 


Entrevista  (c/ texto introdutório)  /  Bibliografia  /  Atlas


Todos os três “trabalhos” têm um fim muito prático e devem usar como ponto de referência os interesses próprios, intuídos, que cada investigação conterá já, in nuce.


Pretende-se favorecer a abertura, o alargar dos campos de interesse, superando as suas vedações, cruzando, de maneira livre (o que será também arriscado), para conseguir olhar para além do espaço confinado da arquitectura. Por um lado sair da arquitectura, abrir o campo, por outro lado, regressar, sempre, à arquitectura.


 


Entrevista


Deverá ser preparada, com antecedência, para cada conferência, uma série de perguntas. Essas perguntas são colocadas directamente ao orador convidado, naturalmente podendo vir a ser misturadas com as questões e reflexões que a conferência suscitar.


As perguntas e respostas deverão ser editadas e compiladas (integrando respostas directas e deduções feitas a partir do que se recolhe na conferência) e acompanhadas de um texto crítico de contextualização.


Com certeza que o aspecto circunstancial e, muitas vezes imprevisto, de uma entrevista é importante (HUO indica nas suas, horas e minutos, lugar, e temperatura ambiente), Peter Brook fala do “processo vivo da entrevista”, mas para o que interessa, neste caso, esses aspectos são irrelevantes, na medida em que se pretende sublinhar a importância da entrevista enquanto exercício. Como exercício de reflexão, mais até do que o seu eventual valor documental.


Através das entrevistas pretende-se configurar um espaço de estudo preparatório sobre determinado tema ou âmbito (que será o do universo do conferencista convidado). Deste modo o estudo preparatório adquire uma intensidade e utilidade dirigida, na medida em que reflecte sobre as possíveis ligações e pertinências entre o conhecimento que é transportado pelo convidado e o espaço individual de cada investigação.


No limite, poderia até considerar-se prescindir da resposta, uma vez que o exercício de enquadramento que permite colocar a questão corresponde já a um momento de elaboração mental.


Quando o artista James Lee Byars inventa o “World Question Center” (1971), está a trabalhar sobre a importância da pergunta como estratégia para o conhecimento. Um princípio de “curiosidade sistemática” que permite considerar situações, mesmo que não pareçam, à partida, plausíveis, ou passíveis de resposta.


Não presumo ter respostas para todas as perguntas. Mas certo é que vale a pena pensar nas perguntas.   (Arthur C. Clarke)


Hans Hulrich Obrist, que tem desenvolvido um importantíssimo trabalho em torno de entrevistas, fala sobre a maneira como vê esse trabalho:


CF: Of the different roles you play which one of them do you assume when you interview someone?


HUO: When I am interviewing, I am just learning.


CF: A listener?


HUO: Yes and I am like a student, I want to be a student all my life. I think the best thing in life is to be a student. When one stops learning it is terrible, particularly when you develop a trajectory, then you start to become more and more busy, and stop reading. And for me “The Interview Project” is to be an eternal student. I still function like a student, with hundred of books at home. When I do an interview I need to read all night long to prepare it, so it is the same intensity as when I had seminar as a student. And usually that goes away in life, but “The Interview Project” keeps me alive like a student.


Interviewing the Interviewer: A Conversation with Hans Ulrich Obrist. Dec. 06, 2011by Clo’e Floirat 


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. Texto introdutório. (700 palavras)


. Entrevista preparada. (7 perguntas) – entrega prévia às conferências


. Entrevista editada e compósita, onde se misturam partes de resposta que aconteceram no decorrer da conferência, com as respostas obtidas quando o interlocutor foi directamente interpelado. (≤1400 caracteres). 


. Entrega intercalar 28.03.2012 e entregas prévias a cada conferência para a “Entrevista preparada” + Entrega no final do semestre. 


 


Livros


Procura-se a construção de uma bibliografia específica, feita por diferentes camadas, que consigam articular os diferentes âmbitos envolvidos no programa de doutoramento: desde o geral, “Interior_ Novos Territórios – apresentado como desafio à criação de uma dinâmica de grupo – , aos individuais – dos interesses que conduzirão à delimitação clara do espaço individual de cada tese.


A ideia é que se possam definir e ordenar as camadas que constituem a bibliografia. Nesse sentido deverão ser claras as “etiquetas” que diferenciam essas camadas, de modo a que nelas caibam os textos consoante as suas naturezas.


A proposta de Bernardo Secchi em relação a esta questão na sua “Prima Lezione di Urbanistica” pode servir como exemplo do que se pretende para esta tarefa:


Quando me é pedida uma bibliografia, penso no meu Pai. Submerso pelos livros que tinham invadido todos os cantos da casa, meu Pai respondia às minhas solicitações bibliográficas, encostando-se às portas de vidro que fechavam os armários e retirando de lá os livros. Antes de mos passar tocava-lhes, como se tocam objectos a que uma pessoa se afeiçoa; comentava-os, abria-os, percorria o índice e o texto, as eventuais ilustrações; falava-me do autor e da edição, do seu contexto temporal e local. Cada livro remetia para um outro e eu tinha sempre a impressão de ter que parar a nossa conversa antes que todas as estantes se esvaziassem para o chão ou para as mesas. Aprendia muitas coisas assim: se o livro era grande ou pequeno, se era ou não ilustrado, se fazia parte de uma colecção, se era um objecto precioso e insubstituível ou se estava ainda em circulação. Podia apreciar nele, antes ainda de o ler, o carácter de objecto, o trabalho do editor e do tipógrafo.


Não posso dar-me ao luxo de repetir com os meus alunos os rituais que tanto amei, mas quando dou aulas levo sempre comigo, e disponho sobre a mesa, um certo número de livros, simulando aquele rito em que era cúmplice, com o meu Pai. É-me também impossível repetir aqueles gestos e aquelas palavras na página impressa. Evoquei-os porque queria que constituíssem uma espécie de “retroterra” imaginário das indicações que se seguem.


Nesta lição convoquei um conjunto de livros e os seus autores. Podemos imaginá-los numa série de salas que se sucedem, afastando-se cada vez mais do ponto de partida da urbanística. Por outras palavras, alguns textos, poucos, são estritamente do âmbito da urbanística e não é talvez possível um conhecimento desta área disciplinar sem os ter lido (b.1). Outros, apesar de se encontrarem no interior desta área, talvez menos indispensáveis para um conhecimento geral dos temas e dos problemas tratados pela urbanística e pela história, podem constituir pontos de partida para os seus aprofundamentos (b.2). Outros ainda permitem talvez reconstruir o fundo sobre o qual as principais reflexões dos urbanistas devem ser colocadas (b.3). Os últimos constroem o fundo sobre o qual devem ser colocadas as minhas reflexões (b.4). Renunciei à tarefa de dar títulos a estas secções da bibliografia. Mas a minha incerteza a este propósito diz também das dúvidas acerca da colocação de cada título dentro dos quatro compartimentos.


SECCHI, Bernardo. “Prima Lezione di Urbanística”. p 183, 184. Editori Laterza. Bari. 2000.


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. Sem limitação de títulos


Entrega intercalar 28.03.2012 + Entrega no final do semestre


 


Atlas


A constituição do Atlas não depende directamente da definição de um enunciado específico (ou terreno) que trabalhe a partir da clareza da dialéctica problema/solução, e portanto não fica à espera da existência do problema para poder avançar, age como estratégia para desbravar caminho. Portanto não se encontra definida a priori, define-se a partir do que encontra e recolhe, podendo constituir-se como base sobre a qual elaborar os primeiros rudimentos de uma coerência, para começar de novo. É por isso mais próximo da noção de processo em curso do que de objecto acabado. Apetrecha-se alternadamente de conceitos e de materiais, alternadamente a posteriori e a priori.


O que é então necessário é a construção de um sistema de categorias que permita ordenar e dar critério ao material que se vai recolhendo.


Pode-se tomar como exemplo o trabalho de “taxonomia” de Pedro Bandeira no âmbito do livro “Souto de Moura: Atlas de Parede, Imagens de Método”. No ensaio “Tudo é Arquitectura” apresenta um elenco de categorias que propõe para uma compreensão do sentido operativo das imagens que constituem o Atlas: 


Imagens Arbitrárias;  Imagens Afectivas;  Imagens Latentes;  Imagens Analógicas;  Imagens Recorrentes; Imagens Utópicas.


A categorização proposta não poderá ser dissociada de alguns conceitos que Eduardo Souto de Moura tem incorporado a partir de diferentes leituras. (…)


Como poderá verificar-se na sua forma, o Atlas que aqui propomos não está vinculado a esta leitura confortavelmente categorizada, porque estruturada à distância e a posteriori. Na sua essência, o Atlas de Parede é um dispositivo complexo e alheio a objectivações: é estável na sua representação formal, mas dinâmico nos seus conteúdos; é pragmático enquanto método mas imprevisível nos efeitos e resultados.


URSPRUNG, Philip; SEIXAS LOPES, Diogo; BANDEIRA, Pedro. “Eduardo Souto de Moura. Atlas de Parede, Imagens de Método”. Editado por André Tavares e Pedro Bandeira. Dafne editora. Porto. 2011.


Pode ser também útil o contributo de Georges Didi-Huberman quando distingue dois princípios de ordenação “do mundo”:


Lo inagotable: !existen tantas cosas, tantas palabras, tantas imágenes en elmundo! Un diccionario sonará ser su catálogo ordenado según un principio inmutable y definitivo (alfabético en este caso). El atlas, sin embargo, no se guia más que por princípios movedizos y provisionales, los que puedem suscitar “inagotablemente” nuevas relaciones – mucho más numerosas todavia que los términos – entre cosas o palabras que nada en principio parecia emparejar. Si busco la palabra “atlas” en el diccionario, en principio nada más me interessará, salvo quizás las palabras que comparten com ella una semejanza directa, un parentesco visible: “atlante” o “atlántico”, por ejemplo. Pero si comienzo a mirar la doble página del diccionario abierto ante mí como una lámina donde podría descubrir “relaciones íntimas y secretas” entre “atlas” y, por ejemplo, “atolón”, “átomo”, “atelier” o, en el outro sentido, “astucia”, “asimetría” o “assimbolia”, habré comenzado entonces a desviar el próprio principio del diccionario hacia un muy hipotético, muy aventurado principio-atlas.


DIDI-HUBERMAN, Georges. “Atlas. ¿Cómo llevar el mundo a cuestas?” 1. Ensayo – Atlas o la Inquieta Gaya Ciência. I. DISPAR(AT)ES “Leer lo nunca escrito", pág 16. Museo Nacional Centro de Arte / Museo Reina Sofia. Madrid, 2011.


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. Sem formato nem limitação de imagens


Entrega no final do semestre

Métodos de Ensino

A disciplina é predominantemente de carácter teórico, estruturando-se num formato de conferência e debate. A avaliação será feita com base na participação activa e qualitativa dos alunos nos debates/conferências.

Bibliografia

Conrads, U., ed. Programs and Manifestoes on 20th-Century Architecture. Cambridge, MA: MIT Press, 1975
Davidson, C.,,Goldberg, D.,. The Future of Learning Instituions in a Digital Age. Cambridge: The MIT Press, 2009.
Lopes, Ernani cord., Inovação e Internacionalização. Duas Questões Fundamentais para a Competetividade das Empresas Portuguesas. Lisboa: SOL/SAER, 2010.
AA.VV,?Nine Questions about the Present and Future of Design?. Harvard Design Magazine, 2004.
Moneo, R., Inquietud Teórica Y Estratégia Proyectual. En la Obra de Ocho Arquitectos Contemporâneos. Barcelona: Actar, 2004
Tschumi, B:, "Architecture and Limits," "Violence of Architecture," and "Disjunctions." In Architecture and Disjunction. Cambridge, MA: MIT Press, 1996
Venturi, R.,. Selections from Complexity and Contradiction in Architecture. New York: Museum of Modern Art, 1977
Vitryvius, On Architecture. Book 1. Translated by Frank Granger. Cambridge, MA: Harvard University Press, 1931.