Turismo de Natureza: Monchique e Estrela ganham novas rotas temáticas

As serras de Monchique e da Estrela ganham novas rotas temáticas desenvolvidas por projeto da Universidade de Évora (UÉ), oferecendo um produto diferenciado de turismo de natureza no nosso país. A sul, os visitantes podem explorar a Rota das Adelfeiras na Fóia, e observar um adelfeiral, habitat muito raro e de elevado valor para a conservação, pois é dominado por espécies relíquias da Laurissilva que aqui permanecem graças às condições microclimáticas da Serra de Monchique. Mais a norte, na Serra da Estrela, a Rota dos Azereiros promete levar os visitantes a explorar a floresta perdida da Laurissilva Continental ao longo da ribeira de Loriga.

“A Serra de Monchique é um local muito especial do ponto de vista bioclimático, pois apresenta um clima de matiz temperada, mais fresco durante o verão, no seio de um território com marcada influência mediterrânica” destaca Carlos Pinto Gomes, professor do Departamento de Paisagem, Ambiente e Ordenamento da UÉ a coordenar o Projeto LIFE-Relict. Esta circunstância permite a existência de um grande número de habitats de importância comunitária, como é o caso do Adelfeiral aqui existente. É por isso que a Serra de Monchique está classificada como Zona Especial de Conservação fazendo assim parte da Rede Europeia de áreas classificadas (a Rede Natura 2000).

Durante o percurso em Monchique, os visitantes podem ainda observar uma enorme riqueza florística, incluindo azevinhos, sobreiros, medronheiros e o raro rosmaninho-branco. “Para ajudar a interpretar a vegetação e a paisagem ao longo desta rota, encontram-se sinalizados pontos de interesse com QR Code. Nestes pontos pode-se aceder a um audioguia elaborado pela equipa da UÉ, com informação sobre a ecologia deste local importante do ponto de vista da conservação das Relíquias da Laurissilva Continental", refere ainda Carlos Pinto Gomes. O mesmo será desenvolvido no percurso da serra da Estrela, na Rota dos Azereiros, espécie autóctone também designado por Loureiro de Portugal e Gingeira Brava, é uma espécie rara em Portugal, que se inscreve na vasta lista de espécies ameaçadas, sendo uma das espécies a observar.

Através destas Rotas pedestres, “pretende-se também contribuir para a criação de estruturas e materiais de apoio ao turismo de natureza, indispensável para o desenvolvimento socioeconómico sustentável destas regiões interiores, mas também contribuir para a divulgação da ciência, que é também um dos papeis fundamentais das Universidades", salienta o professor da Universidade de Évora.

Carlos Pinto Gomes, realça o facto da Laurissilva Continental ter sido uma floresta dominante no Sul da Europa, há cerca de 66 milhões de anos, logo após a grande extinção dos dinossauros, quando o clima na Península Ibérica era do tipo subtropical. Nesse tempo, comummente denominado de Terciário, a vegetação era constituída por plantas de folhas sempre-verdes, largas e lustrosas (do tipo Laurissilva), adaptadas a um clima quente e húmido. Entretanto, o clima começou progressivamente a arrefecer e a ter uma estação mais seca (clima mediterrânico). Sem adaptações que lhes permitissem sobreviver a este novo clima, as plantas subtropicais foram desaparecendo e substituídas por outras semelhantes às que todos conhecemos atualmente. Contudo, refugiadas em locais muito especiais do Sudoeste Ibérico, permanecem ainda algumas daquelas plantas antigas, como acontece nestes locais das serras de Monchique e Estrela.

Recorde-se que o projeto LIFE-Relict - "A Preservar as Relíquias da Laurissilva Continental", está a ser executado por um consórcio liderado pela UÉ e que tem como parceiros as câmaras de Seia e de Monchique, a Associação de Desenvolvimento Rural da Serra da Estrela (ADRUSE) e o Centro de Investigaciones Cientificas y Tecnologicas de Extremadura (CICYTEX), de Espanha.

Com um financiamento de cerca de 1,7 milhões de euros, o objetivo é "melhorar substancialmente" o estado de conservação do habitat das relíquias da laurissilva ainda existentes na Serra da Estrela, no Complexo do Açor e em Monchique. Este é um habitat prioritário para a conservação na União Europeia, mas constitui também parte da identidade destas regiões portuguesas. "São comunidades que só existem praticamente em Portugal e que estão na iminência de serem extintas", destaca ainda Carlos Pinto Gomes, que é também investigador no MED (Instituto Mediterrâneo de Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento) e colaborador do Instituto de Ciências da Terra da UÉ.

Publicado em 23.06.2022